Pular para o conteúdo

Saiba quem pode tomar a vacina contra a dengue em 2025 no SUS e na rede particular

Os primeiros meses do ano costumam registrar aumento nos casos de dengue, uma doença com padrão sazonal, influenciada pela temperatura e umidade. A vacinação é uma ferramenta essencial no combate à doença, embora não seja suficiente por si só, de acordo com especialistas.

Atualmente, o SUS (Sistema Único de Saúde) oferece a vacina Qdenga, desenvolvida pela farmacêutica Takeda, para crianças entre 10 e 14 anos. Essa faixa etária foi escolhida com base em recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), devido ao maior risco de hospitalização. “É uma estratégia para evitar que elas adoeçam e impactem os serviços hospitalares de vacinação”, explica Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e membro das comissões da imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia.

O infectologista Evaldo Stanislau reforça a importância de considerar o histórico da doença no Brasil, que desde 1986 enfrenta surtos de dengue. “Praticamente todos os nascidos a partir dessa data já foram expostos ao vírus em regiões endêmicas. Na população adulta brasileira, a probabilidade de um adulto já estar protegido é muito grande”, afirma.

No entanto, Lígia Bahia, médica sanitarista e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) , alerta que as faixas etárias mais vulneráveis a quadros graves e de alta letalidade não são contempladas pela atual estratégia de vacinação do SUS. “Precisamos apoiar as vacinas, mas avaliar sua eficácia e ampliar o uso para toda a população exposta”, destaca.

Para 2025, o Ministério da Saúde adquiriu 9,5 milhões de doses. Desde que as vacinas começaram a ser aplicadas pelo sistema público, em fevereiro de 2024, já foram distribuídas 6.370.955 doses aos estados brasileiros, sendo que 3.710.222 foram aplicadas em 1.921 municípios.

A pasta afirma que não há previsão de ampliação da faixa etária do público-alvo, pois, além da capacidade de produção mundial da vacina ser limitada, é necessário garantir a segunda dose para todos que já receberam a primeira.

O imunizante também está disponível na rede particular, em farmácias e laboratórios, custando entre R$ 350 e R$ 490 por dose. O intervalo mínimo entre elas é de três meses.

Mas o número de doses disponibilizadas no setor privado é limitado devido à prioridade dada ao atendimento do SUS. A Takeda mantém um estoque de segurança para atender a demanda elegível à vacina pelo setor público, além de garantir a segunda dose para quem já iniciou a imunização na rede particular.

Embora a Qdenga seja oferecida no SUS apenas para crianças, sua bula, aprovada pela Anvisa, permite o uso em pessoas de 4 a 59 anos. Não há estudos envolvendo pessoas a partir de 60 anos, o que pode indicar menor eficácia devido ao envelhecimento do sistema imunológico. Além disso, há incertezas quanto à segurança para essa faixa etária, afirma Stucchi. Contudo, a infectologista afirma que um médico pode prescrever uma vacina para seu paciente acima de 60 anos, estando ciente de que é uma indicação fora da bula e que pode haver possíveis limitações.

A vacina, feita com vírus enfraquecido, é contraindicada para gestantes, lactantes, imunodeprimidos e pessoas com alergia grave a componentes da fórmula. Quem apresentar reação adversa à primeira dose não deve completar o esquema vacinal.

Proteção e efetividade

Stanislau e Stucchi são enfáticos em recomendar que a população tome a vacina, seja a disponível na rede pública ou na rede privada —quem tiver condições financeiras.

De acordo com Stucchi, estudos mostram que a vacina oferece boa proteção contra os quatro sorotipos de dengue até 30 dias após a aplicação da primeira dose, sendo recomendada inclusive para viajantes expostos a áreas de surto e que não terão tempo de tomar a segunda dose. Quem tomar em janeiro, por exemplo, já poderá receber a segunda dose em março.

“A primeira dose ensina o sistema imunológico a se defender, enquanto a segunda garante proteção a longo prazo”, explica Stanislau.

A falta de adesão à segunda dose preocupa especialistas. Stucchi reforça que quem perdeu o prazo deve completar o esquema vacinal, independentemente do tempo decorrido.

“Estudos mostram que o esquema completo com duas doses oferece 61,2% de proteção contra dengue confirmada e 84,1% contra hospitalizações”, destaca Bahia. No entanto, a proteção varia entre os sorotipos, sendo mais eficaz contra os tipos 1 e 2 do que 3 e 4.

Evaldo enfatiza, porém, que a vacina não é a única medida contra a dengue. “A vacina não é uma bala de prata, é um recurso”, diz. Para ele, é importante estimular outras políticas públicas, olhar nas residências e combater foco do mosquito Aedes aegypti.