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O idoso do futuro

Imagine um mundo em que boa parte das pessoas tem mais de 60 anos. Isso, que por muito tempo pareceu distante, será realidade em muitos países até 2050. A expectativa de vida continua a crescer, e viver até os 90 ou 100 anos será cada vez mais comum. Mas os idosos do futuro não serão como os de antigamente. Eles querem viver ativamente, aprender, trabalhar, viajar, conviver, cuidar do corpo e da mente. Eles não querem apenas viver mais — querem viver melhor.

Essa transformação tem origem em fatores como os avanços da medicina, a melhoria das condições de vida e o acesso à informação. No entanto, o envelhecimento saudável vai muito além da biologia. Envolve ter autonomia, vínculos afetivos, oportunidades de aprendizado e participação social. O conceito de “envelhecimento ativo” representa esse novo olhar: uma fase da vida com projetos, movimento e sentido.

A tecnologia também terá papel central na vida dos idosos do futuro. Muitos já nasceram em um mundo digital ou se adaptaram a ele. Isso significa que usar celulares, aplicativos, redes sociais, compras online ou consultas por vídeo fará parte do cotidiano dessas pessoas. Dispositivos inteligentes poderão ajudar a monitorar a saúde, lembrar horários de remédios e até prevenir quedas. A inteligência artificial deve ampliar o acesso a diagnósticos e cuidados médicos mais rápidos e personalizados.

Por outro lado, essa conectividade intensa pode trazer efeitos negativos. O uso excessivo de telas, a exposição constante a notícias alarmantes e a solidão digital podem gerar ou agravar problemas como ansiedade e depressão. Por isso, o cuidado com a saúde mental precisa caminhar junto com o avanço da tecnologia.

Além disso, viver mais significa também lidar com novas demandas. A saúde será sempre uma prioridade, mas os idosos também precisarão de segurança financeira, inclusão no trabalho, acessibilidade e espaços urbanos pensados para diferentes idades. Muitos continuarão ativos profissionalmente, seja por vontade ou necessidade. No entanto, o trabalho na velhice precisa ser adaptado: com jornadas mais leves, ambientes inclusivos e valorização da experiência acumulada ao longo da vida.
O mercado de trabalho, as empresas e a sociedade terão de se reinventar para receber essas pessoas. A educação ao longo da vida será essencial. Estar aberto a aprender e se atualizar será parte do cotidiano dos idosos, que não querem parar no tempo.

Nesse cenário, as políticas públicas terão papel decisivo. Será preciso investir em saúde, previdência, moradia, mobilidade, cultura e convivência. As cidades devem se preparar para acolher essa população em crescimento, garantindo direitos e promovendo qualidade de vida. A formação de profissionais especializados — cuidadores, fisioterapeutas, psicólogos, arquitetos, educadores — também será essencial.

E, acima de tudo, será necessário mudar a forma como enxergamos a velhice. Durante muito tempo, o idoso foi visto como alguém frágil e dependente. Esse estereótipo precisa ser superado. Envelhecer é uma conquista, não um problema. É preciso valorizar os saberes, a trajetória e as possibilidades que essa fase da vida oferece. O idoso do futuro nos desafia a romper com preconceitos, incluir mais, planejar melhor e agir com empatia.

Ele já está entre nós. É alguém que não quer apenas descansar — quer continuar vivendo, aprendendo, ensinando, produzindo. E isso não é só um direito dele. É uma responsabilidade de todos nós.

Por Marcus Vinícius de Almeida Campos – Doutor em Promoção da Saúde