No meu TEDx “A invenção de uma bela velhice”, apresentei a Curva da Felicidade, que descobri em um curso que ministrei na UFRJ em 2014. O que mais me chamou atenção é que o nível de felicidade, pesquisado por economistas em 80 países, com mais de 2 milhões de pessoas, aumenta após os 50 anos. Por que a felicidade cresce com a idade, apesar dos inevitáveis sofrimentos decorrentes da passagem do tempo?
A minha parceria com o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves tem me ajudado a compreender melhor o que tenho encontrado nas minhas pesquisas qualitativas sobre envelhecimento, autonomia e felicidade.
Eustáquio analisou a pesquisa “Attitudes to Ageing 2025” (Atitudes em relação ao envelhecimento 2025), realizada pela Ipsos em 32 países, que revela que os brasileiros acreditam que viverão, em média, até os 80 anos —um número superior à expectativa de vida estimada pelo IBGE em 2023, de 76,4 anos. Segundo os pesquisados, a velhice tem início aos 65 anos, o que indica que os brasileiros esperam viver mais 15 anos. Esse otimismo pode refletir a sensação de recuperação após os impactos da pandemia de Covid-19, que havia reduzido temporariamente a expectativa de vida no país. A esperança de ter uma vida mais longa, saudável e feliz pode funcionar como um poderoso estímulo para melhorar a qualidade de vida, transformando-se em uma profecia autorrealizável.
Este fato, de acordo com Eustáquio, é confirmado pelo “Harvard Study of Adult Development” (Estudo de Harvard sobre o desenvolvimento adulto), um dos mais abrangentes estudos longitudinais já realizados sobre saúde, bem-estar e felicidade. O estudo de Harvard começou em 1938 com o propósito de compreender o que realmente contribui para uma vida saudável, significativa e feliz. Ele se baseia em dados de vida real, acompanhando a vida de centenas de pessoas por mais de 80 anos, e não apenas em pesquisas pontuais.
A conclusão mais famosa do estudo de Harvard é que as pessoas mais conectadas socialmente são mais felizes, vivem mais e têm melhor saúde física e mental. A qualidade dos relacionamentos é o melhor preditor de saúde, longevidade e felicidade. Relações estáveis e de apoio ajudam a manter a função cognitiva e a ter menor risco de doenças degenerativas na velhice. Não é a quantidade de amigos e amigas que importa, mas a profundidade, confiança e o apoio emocional que fazem diferença para uma vida mais longa, saudável e feliz. A solidão e o isolamento social aparecem como fatores de risco tão graves quanto fumar e ter hipertensão.
Eustáquio afirma que as ações da sociedade civil e as políticas públicas são fundamentais para garantir uma bela velhice. No entanto, de acordo com os estudos, as amizades, as relações de confiança e de apoio, desempenham um papel muito mais decisivo na superação das adversidades decorrentes da velhice. Embora muitos acreditem que sucesso financeiro e status social tragam felicidade, pesquisas provam que, depois de supridas as necessidades básicas, esses fatores têm impacto limitado. As conexões humanas são muito mais importantes para uma velhice com mais saúde física e mental.
Contei para Eustáquio que, há mais de 30 anos, meu mantra é: “Amizade é a melhor rima para a felicidade na longevidade”. Ele então citou Shakespeare: “A alegria evita mil males e prolonga a vida”, mas preferiu concluir parafraseando Gonzaguinha: “Envelhecer e não ter a vergonha de ser feliz”.
