Quando a criança interior chama: uma viagem pela memória e pelos prazeres da vida
Hoje eu te convido a voltar um pouco no tempo, existem partes de você que estão aguardando um reencontro. Eu te convido a ir para a frente do espelho e encontrar a criança que você foi um dia olhando dentro dos seus olhos. Respire fundo. Agora, viaje consigo no tempo …
Lá está você, criança, correndo descalço pelo quintal, sentindo a terra fria entre os dedos. O vento bagunça seus cabelos enquanto sua risada ecoa, livre e sem pressa. O rádio toca ao fundo, uma melodia que sua mãe canta baixinho enquanto prepara a refeição para a família. “Copacabana o mar eterno cantor. Ao te beijar ficou perdido de amor. E hoje vivo a murmurar só a ti. Copacabana eu hei de amar”, ela diz com um sorriso, Copacabana, princesinha do mar…”. A melodia suave parece abraçar o momento, tornando-o ainda mais mágico.
Lembra do cheiro do café fresco vindo da cozinha? Do bolo quentinho que sua mãe fazia nas tardes de chuva? E do cheiro da terra molhada, misturado ao barulho das gotas batendo no telhado? As brincadeiras na rua, o carrinho de rolimã descendo a ladeira, os pés sujos de barro e o coração leve como um passarinho. Aquela alegria simples, sem hora para acabar.
Lembra do dia em que aprendeu a andar? As mãos seguras segurando seus bracinhos, os passos trêmulos e inseguros, até que, num instante de coragem, você se soltou e caminhou sozinho pela primeira vez. “Isso, meu amor!”, sua mãe aplaudiu, com os olhos marejados de orgulho. Depois, veio a descoberta das letras, o som da primeira palavra lida em voz alta. “Olha, mamãe, eu consigo!”. E, com isso, o mundo foi se abrindo, as histórias tomaram cor, a imaginação voou livre.
Lembra também dos sonhos que tinha? Talvez quisesse ser astronauta, professor, músico, pintor… Lembra das tardes em que desenhava seus futuros projetos com lápis de cor, acreditando que tudo era possível? E aquele sonho que brilhou nos seus olhos quando, pela primeira vez, você imaginou quem queria ser quando crescesse? O tempo passou e, talvez, esse sonho tenha ficado esquecido no meio do caminho. Mas ele ainda está lá, esperando para ser resgatado.
Os anos passaram e, aos poucos, a rotina, os compromissos e as responsabilidades foram tomando espaço. O tempo, outrora amigo, parecia correr apressado. Havia a escola, os cadernos rabiscados, as cartas dobradas em formato de coração, o primeiro trabalho, o primeiro amor, as noites mal dormidas de preocupação e os dias longos de luta. E a criança que um dia corria solta foi ficando quietinha, esquecida lá dentro.
Agora, ao olhar para o espelho, você vê um rosto marcado pelas histórias vividas. Cada linha, um capítulo. Cada ruga, uma recordação. Mas dentro de você, essa criança ainda existe. Ela não se foi, apenas esperou pacientemente pelo seu chamado.
Um Diálogo necessário – O Passado e o Presente
E se a criança que você foi pudesse falar com o idoso que você se tornou? O que ela diria?
— Ei, você ainda está aí? Faz tempo que não me chama para brincar…
— Sim, eu estou aqui, mas a vida me exigiu tanto… Acabei esquecendo de você.
— Esqueceu do gosto do sorvete de chocolate? Do cheiro da casa da vovó? Da música que fazia seu coração vibrar? Da chuva no rosto? De sujar os pés na terra? de cantar alto sem medo? De dançar sem motivo? Por que parou de fazer o que te fazia feliz?
— Acho que fui me acostumando a viver sem isso…
— E os sonhos? Lembra de quando queria viajar o mundo? Escrever um livro? Construir algo que ficasse para sempre? Aquele desejo de aprender a tocar um instrumento ou de dançar na praça como se ninguém estivesse olhando? Eles ainda estão aqui, guardados dentro de você.
— Mas ainda é tempo! Que tal voltar a sentir o vento no rosto? Comer aquela comida que restou no fundo da panela e que tem muito mais sabor se não precisar servir no prato? Voltar a ouvir sua música favorita e cantar junto? Falar besteira e rir até a barriga doer? A vida ainda está aí, esperando por nosso reencontro.
— E se eu não souber por onde recomeçar?
— Eu estou aqui para te ajudar, vamos começar pequeno um passo de cada vez, eu sei que podemos, já passamos por isso, escolheremos o que mais nos deixa feliz e começamos por isso aos poucos vamos nos reconhecendo e resgando os prazeres da vida e os sonhos deixados no caminho. Deixe-me sair um pouco, brincar de novo. A vida não acabou. Ela apenas espera pelo nosso reencontro.
Resgatando a Alegria do Presente
Aposentadoria não precisa ser um tempo de vazio, mas uma oportunidade de resgatar prazeres esquecidos. Coisas simples como ouvir uma canção antiga, visitar um lugar especial ou reencontrar amigos podem reacender a alegria. Que tal cantarolar aquela música que te fazia dançar no meio da sala? Abrir um álbum de fotografias e sentir o calor das lembranças? Sentir o cheiro do pão assado, do perfume de jasmim ao entardecer?
E, mais do que isso, que tal retomar aquele sonho? Escrever aquela história que nunca saiu do papel, pintar o quadro que ficou só na imaginação, aprender a tocar aquele instrumento que sempre te encantou? Nunca é tarde para redescobrir as coisas que fazem seu coração bater mais forte.
O tempo passa, mas nunca é tarde para reviver o que faz bem.
Que tal hoje dar esse primeiro passo? Convide sua criança interior para um passeio. Permita-se sentir a vida outra vez.
Neurociência das Memórias e o Poder da Nostalgia
Reviver momentos felizes da infância tem um efeito poderoso no cérebro. A neurociência demonstra que a nostalgia ativa circuitos de recompensa e libera dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação. Isso significa que recordar momentos felizes da vida pode melhorar o humor, reduzir o estresse e fortalecer o bem-estar emocional.
Estudos mostram que idosos que revivem memórias afetivas têm melhor saúde mental, pois reforçam conexões cerebrais saudáveis, estimulam a criatividade e ressignificam sua história. A nostalgia não é apenas um refúgio para o passado, mas uma ferramenta para reencontrar prazeres esquecidos e trazer mais significado ao presente.
