Em parceria com o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, estou preparando o curso “A invenção de uma bela velhice”, com foco na análise dos três bônus demográficos: o primeiro, o bônus da estrutura etária; o segundo, o bônus da produtividade; o terceiro, o bônus da longevidade.
Eustáquio me enviou o relatório World Economic Outlook (WEO) do FMI (Fundo Monetário Internacional), publicado em abril de 2025, intitulado “The Rise of the Silver Economy: Global Implications of Population Aging”. O relatório destaca melhorias significativas nas capacidades físicas e cognitivas de pessoas com mais de 50 anos em várias economias avançadas. Em muitos países, as pessoas não apenas vivem mais, mas também envelhecem com melhor saúde física e mental, o que contribui para trajetórias profissionais mais longas e produtivas. Além disso, a capacidade funcional dos mais velhos tem melhorado ao longo do tempo: as pessoas de mais idade de hoje apresentam maior vigor físico e desempenho cognitivo superior em comparação com as pessoas da mesma faixa etária em gerações anteriores.
Uma pesquisa realizada em 41 países indicou que, em média, uma pessoa de 70 anos em 2022 apresentava a mesma capacidade cognitiva de uma de 53 em 2000. Esse fenômeno, segundo Eustáquio, está sendo descrito como “os 70 anos são os novos 50”.
Atualmente, mais de 81% dos brasileiros vivem até os 65 anos, e mais de 52% alcançam os 80. Em 2006, o número de brasileiros de mais de 60 ultrapassou o número de crianças de zero a cinco anos. Em 2023, o número de brasileiros de mais de 70 ultrapassou o número de crianças. Para quem já chegou aos 60 e superou o risco de morte nas diferentes idades, a expectativa de vida foi, em 2023, de 22,5 anos: isto é, a pessoa de 60 anos tem uma expectativa de viver até os 82,5 anos.
A “compressão da mortalidade”, de acordo com Eustáquio, é um conceito demográfico que descreve a concentração da morbidade e das mortes em idades mais avançadas, aumentando o tempo para aproveitar uma velhice mais feliz, produtiva e saudável. Com o avanço da medicina e a prevenção de doenças, a mortalidade pode ser adiada para uma idade biológica máxima, em vez de se estender pelas diversas faixas etárias.
Hoje, em muitos países, pessoas de 70 anos têm melhor saúde física, mental e autonomia do que seus pais ou avós tinham aos 50. Doenças antes incapacitantes estão sendo controladas ou postergadas. Cirurgias, medicamentos, terapias e reabilitação ajudam a preservar a funcionalidade por mais tempo. Há muito mais pessoas de mais idade praticando atividade física, estudando, namorando, viajando, empreendendo e até começando uma nova carreira.
Aos 72 anos, Eustáquio acredita que os “70 são os novos 50”. Ele se aposentou aos 66 anos e logo em seguida sofreu o impacto da pandemia de Covid-19. Deixou de fazer exercícios, engordou e ficou deprimido com a queda da expectativa de vida no Brasil e no mundo. Mas sobreviveu e retomou os exercícios: pilates, academia, bicicleta, natação e caminhada nas trilhas do Rio de Janeiro. Com o avanço do mundo virtual, tem uma vida mais produtiva e feliz, pois trabalha no que gosta e dá significado à sua vida. Ele tem certeza de que ter um propósito de vida, ter um dia a dia com mais saúde e autonomia, é o passo mais importante para construir uma bela velhice.
