Nos últimos dez anos, o Brasil tem testemunhado uma transformação silenciosa, mas significativa, no perfil dos estudantes universitários. Um estudo recente divulgado pelo Semesp, entidade que representa as mantenedoras do ensino superior no país, revela que a participação de pessoas com 60 anos ou mais nas universidades cresceu de forma notável entre 2013 e 2023. Enquanto outras faixas etárias enfrentaram queda nas matrículas, o público sênior foi o único a apresentar crescimento nos cursos presenciais em instituições privadas, com um aumento de 22%.
Na modalidade a distância (EaD), o salto foi ainda mais expressivo: impressionantes 672%. Esse fenômeno aponta para uma mudança nas dinâmicas sociais e educacionais do Brasil. Cada vez mais, idosos estão voltando à sala de aula, física ou virtual, para aprender, se atualizar, se realizar pessoalmente e até mesmo se recolocar no mercado de trabalho.
Um novo olhar sobre o envelhecimento
O crescimento da presença de idosos nas universidades desafia estigmas históricos. A ideia de que a terceira idade é uma fase de repouso e passividade vem sendo substituída por uma visão mais ativa e participativa. E a educação tem um papel fundamental nessa mudança.
A longevidade é um dos fatores centrais dessa transformação. Com o aumento da expectativa de vida, que segundo o IBGE já coloca a população com 60 anos ou mais em cerca de 15% do total de brasileiros, é natural que mais pessoas busquem meios de se manterem ativas física, intelectual e socialmente. E o ambiente universitário tem se mostrado ideal para isso.
Educação como caminho de realização e inclusão
O Mapa do Ensino Superior no Brasil, divulgado pelo Semesp, revelou que os idosos ainda são minoria no ensino superior: representam 0,4% das matrículas em cursos presenciais e 0,8% em cursos EaD. Apesar disso, foram justamente esses percentuais que apresentaram os maiores índices de crescimento na última década, superando com folga os dados de todas as outras faixas etárias.
Além do levantamento do Semesp, outras pesquisas reforçam essa tendência. Um estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontou que o acesso da terceira idade à internet cresceu 97% em 2021. Um dos principais motivos? A busca por cursos online e conteúdos educacionais.
Com a tecnologia cada vez mais presente no dia a dia, os idosos têm se apropriado das ferramentas digitais para expandir seus horizontes. Plataformas de ensino a distância, tutoriais online e o apoio de familiares e professores têm facilitado esse processo, tornando o ensino superior mais acessível e menos intimidante.
Por que os idosos estão voltando a estudar?
Os motivos que levam pessoas com 60 anos ou mais a ingressarem na universidade são variados. Para alguns, trata-se da realização de um sonho antigo. Para outros, é uma forma de buscar nova qualificação profissional ou até mesmo de empreender. Muitos veem na educação uma maneira de manter a mente ativa, expandir a rede de contatos e se manter atualizados em um mundo em constante transformação.
Projetos e políticas de incentivo
Essa transformação não acontece por acaso. Diversas instituições de ensino superior têm implementado projetos específicos voltados à inclusão da terceira idade. Entre as iniciativas estão cursos gratuitos ou com mensalidades reduzidas, programas de mentoria, turmas adaptadas, atividades culturais e acadêmicas exclusivas, além de medidas de acessibilidade física e pedagógica.
No cenário político, projetos de lei como o PL 1.519/2024 também vêm ganhando destaque. A proposta incentiva faculdades a adotarem ações afirmativas para facilitar a entrada e permanência de idosos na graduação. A expectativa é que medidas assim contribuam para um crescimento ainda mais expressivo da participação da terceira idade no ensino superior nos próximos anos.
Desafios ainda existem
Apesar dos avanços, o caminho ainda exige atenção. A principal barreira enfrentada pelos idosos está relacionada às condições financeiras. Embora existam descontos e bolsas, o custo com mensalidades, materiais e transporte ainda é um obstáculo para muitos. Além disso, a adaptação às tecnologias e ao ritmo acadêmico moderno pode ser um desafio. Muitas instituições ainda não oferecem suporte suficiente para garantir que os alunos da terceira idade tenham uma experiência completa e positiva no ensino superior.
Os benefícios da educação para a terceira idade
Os impactos positivos do ingresso de idosos na universidade vão muito além da sala de aula. A saúde mental é uma das áreas mais beneficiadas. Estudos mostram que o estímulo intelectual ajuda na prevenção de doenças neurodegenerativas como Alzheimer e contribui para o bem-estar emocional. Outro ganho importante é a inclusão social. Participar da vida acadêmica proporciona novas amizades, conexões intergeracionais e uma sensação de pertencimento.
Para muitos, trata-se de uma nova fase de descobertas, desafios e conquistas. E, claro, há o desenvolvimento pessoal. Estudar por prazer, por curiosidade ou por vontade de aprender algo novo reforça a autoestima e promove um envelhecimento mais ativo e autônomo.
Uma tendência que veio para ficar
O crescimento da presença de idosos nas universidades brasileiras revela uma mudança cultural profunda. Mostra que a educação é, de fato, um direito e uma possibilidade em todas as fases da vida. Os dados do Semesp e de outras pesquisas apontam para um futuro em que aprender na terceira idade será cada vez mais comum e celebrado. Como diz o velho ditado: nunca é tarde para aprender. E, pelo visto, cada vez mais brasileiros com mais de 60 anos estão levando isso ao pé da letra e aos bancos da universidade.
Ensino superior com bolsa de estudo
Nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum ver pessoas com mais de 40 anos ingressando no ensino superior. Esse movimento reflete uma mudança importante na forma como a sociedade enxerga a educação e o desenvolvimento pessoal ao longo da vida. Muitos adultos estão retornando às salas de aula em busca de novos conhecimentos, melhores oportunidades profissionais ou mesmo a realização de um sonho antigo.
Diversos fatores contribuem para esse aumento no número de estudantes acima dos 40 anos. O incentivo à educação continuada, o reconhecimento do valor da experiência no mercado de trabalho e, principalmente, a ampliação das políticas de acesso ao ensino superior têm desempenhado um papel fundamental. Entre essas facilidades, destacam-se as bolsas de estudo, que tornam possível estudar em instituições de qualidade sem comprometer o orçamento.
Fonte: Idosos com Dignidade, CNN Brasil e Terra