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Viver mais é bom, mas viver bem é tudo

Grupo de idosos se exercitando — Foto: Freepik

Quando eu era criança, achava que envelhecer era simplesmente acumular velinhas no bolo de aniversário. Quanto mais, melhor, certo? Hoje, com um pouco mais de estrada, vejo que os números não contam a história toda. Não basta viver muito — o que realmente importa é como vivemos esses anos, especialmente os últimos. De que adianta chegar aos 90 se os últimos 15 são passados dependendo de alguém para comer, se levantar da cama ou até tomar um banho? O grande desafio da longevidade, para mim, é garantir que a gente viva com autonomia, energia e dignidade pelo maior tempo possível.

A medicina e as condições de vida melhoraram muito, é verdade. Estamos vivendo mais do que nunca. Mas, aqui entre nós, nem sempre esses anos a mais vêm com qualidade. Você já parou para pensar na diferença entre expectativa de vida e expectativa de vida saudável? A primeira cresceu bastante, mas a segunda, que mede quantos anos vivemos com independência e sem grandes limitações, não acompanhou o mesmo ritmo. Isso significa que muita gente chega à velhice enfrentando doenças crônicas, dores e uma dependência que pesa — não só para quem envelhece, mas para a família toda.

Cuidar de alguém que perdeu a autonomia é uma tarefa árdua. É tempo, dinheiro, energia emocional. E, para quem está do outro lado, depender dos outros pode ser uma experiência que machuca a alma, que faz a pessoa sentir que perdeu um pedaço de si. Eu já vi isso de perto: a frustração de alguém que sempre foi independente mas agora precisa de ajuda para coisas simples. É duro. Por isso, cada vez mais especialistas falam em um objetivo claro: não só viver mais, mas viver bem por mais tempo, adiando ao máximo esse período de fragilidade.

E sabe o que é mais animador? Boa parte disso está nas nossas mãos. Estudos mostram que até 80% do que determina um envelhecimento saudável vem do nosso estilo de vida, não da genética. Comer bem, movimentar-se, dormir direito, manter os amigos por perto e cuidar da cabeça fazem toda a diferença. Eu, por exemplo, comecei a caminhar mais regularmente há alguns anos — nada de maratonas, só um passeio diário. E sinto na pele: o corpo responde, a mente clareia, e até o humor melhora. Exercício é como um superpoder: fortalece os músculos, melhora o equilíbrio, protege o coração e até dá um up no cérebro. Quem se mantém ativo chega à velhice com muito mais gás para viver a vida do jeito que quer.

Mas aqui vai um recado importante: não deixe para pensar nisso só quando o cabelo começar a branquear. O segredo de envelhecer bem é construir, dia após dia, desde já. Cada escolha conta — a salada que você escolhe no almoço, a noite que você dorme cedo, a caminhada que você decide fazer em vez de ficar no sofá. Não tem mágica aos 70 anos; tem um trabalho de formiguinha ao longo da vida. E, olha, vale cada esforço. Porque envelhecer com autonomia é, acima de tudo, uma questão de dignidade. É poder escolher o que vestir, aonde ir, como passar o dia. É continuar sendo você, com liberdade e alegria.

Na saúde, existe um termo que acho fascinante: “compressão da morbidade”. Em palavras simples, é adiar ao máximo o momento em que as doenças e limitações chegam, encurtando o período de dependência para o finalzinho da vida. Imagina só: viver décadas com energia e, se a fragilidade vier, que seja por pouco tempo. Isso não é só um sonho. Lugares que investem em prevenção, hábitos saudáveis e acesso à saúde mostram que é possível. E, aos poucos, isso estará ao alcance de todos nós.

No fundo, envelhecer com qualidade é sobre liberdade. É sobre chegar aos 80, 90 anos e ainda sentir que a vida é sua, que você decide o ritmo. Então, que tal começar hoje? Não importa se você tem 30, 50 ou 70 anos — sempre dá para dar um passo a mais. Viver mais é ótimo. Mas viver bem, com autonomia e um sorriso no rosto até o fim? Isso, meus amigos, é o que faz a vida valer a pena.]

Fonte: O Globo