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Professora de ioga de 102 anos ensina sua abordagem simples para envelhecer bem

Charlotte Chopin se alonga no tapete de ioga em sua casa em Léré, França. Foto: Antoine Castagné/The New York Times

Em uma quarta-feira nublada de meados de setembro, Charlotte Chopin assumiu a posição que mantém há mais de 40 anos. Vestindo uma blusa larga de algodão listrado e calças, os cabelos curtos e brancos um pouco despenteados, ela chamou a atenção de suas alunas e começou a guiá-las pelos alongamentos, incentivando-as a seguirem seus movimentos.

Para um iniciante, a constituição frágil e o jeito reservado de Charlotte poderiam, a princípio, ser confundidos com fragilidade. Mas bastava observá-la executar uma série de posturas de guerreiro — pés firmes no chão, braços estendidos, o corpo fluindo com naturalidade de uma posição para a outra.

Desde 1982, Charlotte, agora com 102 anos, ensina ioga em Léré, uma vila francesa na região do Loire. Suas ruas sinuosas são ladeadas por casas precárias e pequenos comércios, muitos aparentemente abandonados. Pode-se encontrar uma ovelha ou um burro pelo caminho, mas pouco mais do que isso.

Nesse cenário, está localizado seu estúdio — uma pequena sala quadrada, de paredes pintadas em tom pêssego, instalada no prédio de uma antiga delegacia. Os vestiários já foram celas de prisão. Naquela noite, suas alunas eram quatro mulheres locais, de 35 a 60 anos.

Quando a aula começou, Charlotte me chamou para fazer dupla com ela em um alongamento profundo. Nós duas seguramos um bastão de madeira e dobramos os joelhos, apoiando-nos mutuamente em equilíbrio. Hesitei no início, com medo de puxá-la para o chão, mas ela igualou minha força com facilidade. Mais tarde, quando recusei um movimento que parecia assustador — virar de ponta-cabeça segurando em tiras presas à parede —, ela mesma demonstrou o exercício sem hesitar e em seguida fez um gesto para que eu tentasse.

— Voilà — disse, quando consegui.

Nos últimos anos, Charlotte se tornou uma espécie de celebridade na França, graças a uma participação em 2022 no programa La France a un Incroyable Talent, equivalente francês de America’s Got Talent. Aos 99 anos, apresentou no palco uma dúzia de posturas quase perfeitas. “Eu me sinto bem, com todas essas pessoas me aplaudindo”, disse às câmeras, em francês. “É inesperado.”

Embora não tenha avançado para a fase seguinte da competição, sua apresentação chamou a atenção da mídia local — e também do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. No ano passado, ela recebeu do país uma honraria civil por ser uma embaixadora de destaque da ioga. Desde então, não pararam de chegar convites para entrevistas e eventos. Um de seus quatro filhos, Claude Chopin, ex-fisioterapeuta e também habilidoso em ioga, tornou-se seu gerente informal.

Charlotte não se apresenta como uma guru do bem-estar, nem parece sentir necessidade de pregar sobre sua forma de viver. Mas todos querem saber seus segredos para envelhecer bem.

Gratidão e boa sorte

Encontrei Charlotte em sua casa, um chalé construído em algum momento do século XIX e que está em sua família há pelo menos 100 anos. Claude, de 69 anos, nos acompanhou para traduzir (Charlotte fala francês e alemão).

Reunimo-nos na sala de estar, decorada com paisagens naturais, fotos da família e estatuetas em diferentes posições de ioga. Sobre um móvel, uma placa dizia, em francês: “A felicidade não está em ter tudo o que você quer, mas em amar o que você tem.”

Charlotte só experimentou a ioga aos 50 anos, incentivada por uma amiga como forma de descansar das tarefas domésticas. Começou a dar aulas uma década depois, para não se entediar quando se mudou para a pequena cidade. Quando perguntei o que a ioga lhe oferecia, ela respondeu, simplesmente:

— Serenidade.

Esse é o tom mais filosófico que Charlotte adota, seja sobre sua prática, seja sobre sua longevidade extraordinária. Ela atribui esta última à boa sorte. “Não tenho muitos problemas”, comentou. “Tenho uma atividade de que gosto.”

E é algo de que ela não consegue imaginar viver sem.

Há dois anos e meio, pouco depois de completar 100 anos, Charlotte desmaiou enquanto dirigia de volta para casa após uma aula de ioga. Bateu o carro e quebrou o esterno. Três meses depois, não apenas já estava ao volante novamente, como também voltou a ensinar.

Charlotte só começou a praticar ioga aos 50 anos Foto: Antoine Castagné/The New York Times

Prática, prática, prática

Enquanto tomávamos chá preto, preparado por ela, perguntei a Charlotte se sentia que tinha 102 anos. Ela soltou uma gargalhada e respondeu com cuidado:

— Só de manhã.

Mas, depois do café da manhã habitual — café, torrada com manteiga e mel ou geleia e, às vezes, uma colherada de geleia pura —, “já estou de volta ao ritmo, me sinto bem”, contou. (“Quando éramos crianças, ela sempre dizia que o café da manhã era o melhor momento do dia”, acrescentou Claude. “E continua sendo.”)

Segundo Charlotte, o que mais a sustenta, tanto na prática de ioga quanto na vida, são suas alunas e o apoio social que elas oferecem. Isso coincide com pesquisas que mostram que pessoas que desafiam os padrões do envelhecimento valorizam muito os relacionamentos sociais.

Para Claude, ver a mãe se manter tão sociável na velhice influenciou mais sua própria visão sobre envelhecer do que qualquer outra coisa. “Ela gosta de pessoas”, disse ele, “e tem facilidade no contato com os outros.” Ele deseja o mesmo para si.

Na noite em que acompanhei a aula, suas alunas eram uma operária de fábrica, uma balconista de mercearia, uma aposentada e uma dona de casa. Todas frequentavam as aulas de Charlotte havia muitos anos e se cumprimentavam com abraços e saudações calorosas.

Durante a aula, quando não estava executando as posturas junto conosco, Charlotte circulava pela sala, corrigindo nossa forma e incentivando-nos a ir além. Em certo momento, pressionou meu corpo cansado da viagem tão firmemente em um alongamento, que comecei a questionar meus próprios limites.

Depois da aula, suas alunas descreveram a professora como uma “perfeccionista”, mas sempre encorajadora. “Ela me dá vontade de envelhecer”, escreveu uma delas mais tarde, por e-mail.

Charlotte diminuiu o ritmo ao ultrapassar os 100 anos. Antes praticava ioga diariamente, agora apenas durante as três aulas semanais que ministra. Também já não consegue executar todas as posturas — parou de fazer paradas de mão há alguns anos. Mas ainda toca os pés com as mãos e se movimenta com a firmeza de alguém décadas mais jovem.

Perguntei se suas aulas haviam mudado com o tempo, e ela não entendeu por que deveriam mudar.

— Sempre dou minhas aulas da mesma forma — disse. — As posturas são as posturas.

Para Charlotte, essa rotina pode muito bem ser o segredo.

Fonte: Estadão