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‘Muitas vezes colocar o idoso em uma instituição é a melhor resposta. Não tenha vergonha’

Com 79 anos de idade, Alexandre Kalache completa, em 2025, 50 anos de estudos sobre a longevidade e o envelhecimento.

O médico gerontólogo carioca é especialista em um tema que, segundo ele, seus pares ainda resistem em desvendar — dando preferência a especialidades como a obstetrícia e a pediatria, em um país com taxas de fecundidade decrescentes.

A população mundial está vivendo cada vez mais, e o Brasil, especialmente, tem um grande problema com que lidar: os brasileiros estão envelhecendo, e rápido, antes que o país tenha dado certo e se tornado um lugar mais justo para se viver, afirma Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e codiretor do Age Friendly Institute, nos Estados Unidos.

Como consequência, as pessoas estão vivendo por mais tempo em condições ruins, sem os recursos para as necessidades básicas ao longo da vida e, principalmente, na velhice — um quadro que o deixa “muito triste”, diz Kalache em entrevista à BBC News Brasil.

“Os países desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecerem. Nós estamos envelhecendo em pobreza, imensa desigualdade, face a catástrofes naturais”, avalia.

O gerontólogo defende políticas públicas direcionadas aos idosos — ou, no mínimo, que seja respeitado o Estatuto do Idoso, que já tem mais de 20 anos.

Para ele, essas iniciativas devem ter continuidade, independentemente de mudanças de governos, e incluir a criação de mais instituições de longa permanência para idosos — conhecidas popularmente como “asilos” ou “casas de repouso” — que sejam públicas.

Aliás, ele refuta o tabu com a institucionalização de idosos, dizendo que a obrigatoriedade moral dos mais velhos ficarem com parentes em casa frequentemente recai sobre mulheres e famílias com poucos recursos.

“A única forma de lutar contra o estigma é esclarecer para a população: não tenha vergonha. Se você precisa institucionalizar essa pessoa mais idosa, é porque você não está conseguindo”, defende Kalache.

Outra iniciativa fundamental, segundo ele, é a conscientização sobre como tornar a vida mais saudável, em qualquer fase, o que permitirá um melhor envelhecimento.

“Como preparar os jovens de hoje para que deem certo, para que possam chegar a 2050, 2060, 2070 sendo viáveis? Envelhecimento é gerúndio, nós estamos envelhecendo, e por isso as oportunidades para os mais jovens que almejam ser os idosos de amanhã devem estar garantidas desde a juventude”, afirma.

“Costumo dizer aos jovens: se você quer chegar bem aos 90 ou 100 anos, comece já.”

Fonte: BBC Brasil