Pular para o conteúdo

A arte de envelhecer com propósito: O papel ativo da pessoa idosa

Nas últimas décadas, observamos um aumento significativo da população idosa em todo o mundo, especialmente devido ao avanço da medicina e à melhoria das condições de vida. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), a expectativa de vida global passou de 66,8 anos em 2000 para 73,4 anos em 2020, elevando a proporção de idosos na sociedade. Com isso, o envelhecimento deixa de ser apenas um processo biológico para assumir um papel social ativo, no qual a pessoa idosa pode protagonizar sua própria história.

De acordo com Ribeiro, Yassuda e Neri (2020), o propósito de vida (PV) é definido como o senso de que a vida tem sentido e intencionalidade, funcionando como um guia para o estabelecimento de metas e para a tomada de decisões em relação ao uso dos recursos pessoais. Estudos longitudinais, como o de Boyle et al. (2010), demonstraram que indivíduos idosos com alto propósito de vida apresentam menor risco de desenvolvimento de doenças crônicas, melhor saúde mental e maior longevidade.

Atualmente, é cada vez mais comum ver pessoas idosas tendo protagonismo e ocupando espaços importantes na sociedade. Por exemplo, projetos como o “Universidade Aberta à Terceira Idade” promovido por diversas universidades brasileiras, ou o programa “Idoso Ativo” do Ministério da Saúde, incentivam a participação social, o aprendizado contínuo e o engajamento em causas sociais. Além disso, muitas instituições promovem oficinas de letramento digital para idosos, como a iniciativa “Idosos Online” da USP, onde a inclusão digital contribui para o fortalecimento da autoestima e ampliação de redes sociais.

O protagonismo da pessoa idosa também se manifesta em papéis de liderança e tomada de decisão em esferas políticas e sociais.

Diversos exemplos no mundo mostram idosos ocupando cargos de destaque, como presidentes, senadores, vereadores e líderes comunitários. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assumiu o cargo aos 78 anos, mostrando que a velhice não é impedimento para exercer funções de alta responsabilidade.

No Brasil, figuras como a ex-presidente e atual presidenta do banco dos BRICS Dilma Rousseff exemplificam essa participação ativa. Esses exemplos reforçam que a experiência e a maturidade adquiridas ao longo da vida podem ser poderosas ferramentas para a governança e a formulação de políticas públicas que beneficiem toda a população, incluindo a próprios idosos.

Ter um propósito de vida é essencial em qualquer fase, mas na velhice assume um papel ainda mais valioso. Pode se manifestar em atividades variadas, desde o cuidado com os netos até o envolvimento em causas comunitárias ou a realização de sonhos antigos, como aprender um novo instrumento musical ou viajar. O tamanho do objetivo é menos importante que o impacto emocional e o senso de realização que ele proporciona.

A literatura evidencia que idosos engajados em atividades com significado apresentam melhor saúde física, maior autonomia e níveis mais baixos de depressão (Hill & Turiano, 2014). Diante disso, é fundamental mudar a percepção social sobre o envelhecimento.

A pessoa idosa não deve ser vista como alguém que apenas “espera o tempo passar”, mas como protagonista de sua própria vida, capaz de se reinventar e de contribuir ativamente para a sociedade. Envelhecer com propósito é uma verdadeira arte: a arte de viver com sentido, de ressignificar experiências e de provar que nunca é tarde para buscar a felicidade.

Por Marinella Moretz-Sohn