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Para sobreviver às festas de dezembro: médico e nutricionista dão 10 dicas que evitam (e curam) a ressaca

Grau da ressaca varia conforme fatores como gênero, idade e tipo de bebida — Foto: Editoria de Arte/Andre Mello

Dor de cabeça, boca seca, náusea, fadiga, dores no corpo, irritabilidade, vertigem e problemas de memória, quem nunca se sentiu assim após tomar algumas doses a mais. Nessa época do ano, a ressaca pode aparecer com mais frequência graças às inúmeras confraternizações e comemorações. Mas afinal, o que é a ressaca? Quanto tempo dura? E o mais importante, é possível curá-la ou preveni-la?

De acordo com o Instituto Nacional sobre o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA (NIAAA), A ressaca se refere a um conjunto de sintomas que ocorrem como consequência do consumo excessivo de álcool. Lembrando que o consumo moderado de álcool é definido como uma dose por dia para mulheres e duas doses diárias para homens. Uma dose equivale a dez gramas de álcool puro, o que corresponde a 300ml de cerveja (5% de álcool), 125ml de vinho (12% de álcool) e 30ml de destilado (40% de álcool).

Essa diferença na recomendação para homens e mulheres ocorrem porque as mulheres já são naturalmente mais suscetíveis aos efeitos do álcool de forma geral, independentemente da idade.

—As mulheres, mesmo em idades mais jovens, geralmente têm menos massa muscular do que os homens. Isso faz com que elas tenham também um menor volume de água corporal, aumentando a concentração de álcool no sangue — explica a a hepatologista Cristiane Villela Nogueira, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e professora titular da Faculdade de Medicina da UFRJ.

— Existem estudos mostrando que elas também produzem menos uma enzima chamada enzima álcool desidrogenase, levando a uma metabolização mais lenta do álcool — completa a médica Polianna Souza, geriatra do Einstein Hospital Israelita.

Pessoas a partir de 50 anos de idade também correm maior risco de ressaca. Isso acontece porque há uma espécie de redução da tolerância ao álcool à medida que envelhecemos, pois o corpo se torna menos capaz de processar o álcool. Isso vale para homens e mulheres.

— Existe a redução da tolerância ao álcool conforme a gente envelhece. Então, o relato de pessoas, principalmente mulheres de 50 anos ou mais, de que elas sentem mais os efeitos do álcool, não é apenas uma percepção, mas um fenômeno fisiológico bem documentado — explica Souza.

A ressaca é resultado da toxicidade do álcool no organismo. Os sintomas típicos incluem fadiga, fraqueza, sede, dor de cabeça, dores musculares, náuseas, dor de estômago, vômito, vertigem, sensibilidade à luz e ao som, ansiedade, irritabilidade, redução do estado de alerta, tremores, dificuldade de concentração, sudorese, batimentos cardíacos acelerados e aumento da pressão arterial.

Em geral, esses sintomas surgem entre seis e oito horas após o fim do excesso alcoólico e podem ser observados por até 20 horas. A intensidade pode variar de pessoa para pessoa e de acordo com a quantidade de álcool ingerida.

Apesar das definições de consumo moderado e abusivo, quanto de álcool é necessário para causar ressaca? O nosso organismo leva em média uma hora para metabolizar uma dose de álcool, segundo informações da Cleveland Clinic. Portanto, consumir mais de uma dose por hora pode causar ressaca.

E é possível curar uma ressaca? Muitos remédios caseiros e até mesmo produtos vendidos em farmácias afirmam melhorar a ressaca. Existem cápsulas que protegem o fígado, bebidas ricas em eletrólitos, adesivos vitamínicos para usar durante a festa e tiras que se dissolvem na língua – tudo com o objetivo de acelerar a recuperação.

No entanto, um estudo realizado pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que avaliou intervenções para ressaca, incluindo compostos como o ácido tolfenâmico, o suco de pera coreana e um análogo da vitamina B6 chamado piritinol, disponíveis em produtos e que supostamente aliviam os sintomas da ressaca, encontrou poucas evidências de que fossem realmente eficazes.

Infelizmente, não existe uma maneira eficaz de acelerar esse processo, apenas tempo. Mas algumas coisas podem de fato ajudar.

Para melhorar a ressaca

  • Coma carboidratos: O consumo de bebidas alcoólicas pode reduzir os níveis de açúcar no sangue, então, teoricamente, parte da fadiga e das dores de cabeça da ressaca podem ser causadas por um cérebro funcionando sem a quantidade suficiente de seu principal combustível, segundo informações da Harvard Health Publishing. Alimentos leves, como torradas integrais e suco, são uma maneira de elevar os níveis de açúcar de volta ao normal gradualmente.
  • Hidrate-se: O álcool é diurético. Ele faz você urinar mais, resultando na perda de muitos líquidos e desequilibra os níveis de eletrólitos. De acordo com a Cleveland Clinic, você pode perder até um litro de urina nas horas seguintes ao consumo de quatro doses de bebida alcoólica. A desidratação causa sede, fadiga e dores de cabeça. Portanto, beba bastante líquido, principalmente água para reduzir a desidratação. Bebidas isotônicas também são bem-vindas para repor eletrólitos. A nutricionista e colunista do GLOBO, Priscilla Primi, também recomenda chás calmantes, como camomila, erva cidreira, verde e até mesmo o matcha. Entre os sucos naturais, Primi afirma que os sucos de frutas sem coar são os melhores, principalmente o abacaxi que tem a bromelina, uma enzima que ajuda na digestão. Suco de melancia e melão também são bons porque tem bastante água.
  • Durma bem: O álcool é um sedativo e pode ajudar a promover o sono. Mas ele será fragmentado e a tendência é que você acorde cedo. A privação de sono por si só não causa ressaca, mas certamente contribui para fadiga, bem como para a perda de produtividade e dificuldade de concentração. Descanse bastante, se possível, para combater esses sintomas.
  • Antiácidos e anti-inflamatórios: O álcool irrita o revestimento do estômago e dos intestinos. Ele retarda a digestão, aumentando a secreção de substâncias gordurosas pelo fígado, estômago e pâncreas. Todos esses processos podem causar desconforto estomacal e náuseas. Antiácidos ajudam a acalmar o estômago. Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como ibuprofeno, ajudam a aliviar dores e desconfortos. Mas eles também podem irritar ainda mais o estômago. Use com parcimônia.
  • Café: A cafeína pode não ter nenhum poder especial contra a ressaca, mas, como estimulante, pode ajudar a aliviar a sonolência. No entanto, é importante lembrar que cafeína e álcool nunca devem ser misturados, pois a cafeína pode mascarar os efeitos depressores do álcool, fazendo com que os consumidores se sintam mais alertas do que realmente estariam. pode ajudar a melhorar o nível de atenção.
  • Tenha paciência: Seu corpo precisa eliminar os subprodutos tóxicos do álcool, reidratar-se, cicatrizar os tecidos e restaurar as funções e atividades ao normal. Os sintomas desagradáveis tendem a diminuir em 8 a 24 horas.

Como prevenir

Se não dá para curar a ressaca rapidamente, a boa notícia é que é possível beber e prevenir a ressaca com algumas dicas simples.

  • Beba devagar. Limite o consumo a uma bebida por hora. Essa é aproximadamente a quantidade que seu corpo consegue processar. Se estiver consumindo bebidas como champanhe, beba devagar. As bolhas de dióxido de carbono podem acelerar a absorção do álcool na corrente sanguínea e competir com a absorção de oxigênio.
  • Beba água. Alterne bebidas alcoólicas com água pura. De acordo com Cristiane, beber água junto com a bebida alcoólica ajuda na diluição do álcool no organismo. Isso ajuda a prevenir a desidratação, o que contribui para a redução da intoxicação e, consequentemente, da ressaca
  • Alimente-se. Não beba de estômago vazio. A comida ajuda a retardar a absorção do álcool, de acordo com Polianna. É melhor comer antes de beber ou enquanto bebe.
  • Escolha com sabedoria. Prefira bebidas de cor mais clara, como vodca, gin, cerveja clara e vinho branco. Essas bebidas têm menos congêneres (compostos produzidos durante a fermentação que contribuem para o sabor e o aroma das bebidas alcoólicas, mas podem piorar a ressaca) do que as escuras, como Bebidas mais escuras, como whisky e conhaque.

Fonte: O Globo