Pular para o conteúdo

O emburrecimento de uma geração

Criança com celular na mão — Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Muito se fala sobre o adoecimento mental, a erotização e a sujeição a toda sorte de pedófilos e psicopatas e golpistas que as redes sociais “oferecem” a crianças e adolescentes. Mas como já escrevi aqui algumas vezes aqui, o empobrecimento cognitivo também é um problema sério.

Recentemente, um estudo do JAMA, importante periódico médico, analisou 6.554 participantes de 9 a 13 anos. Quem usava redes sociais cerca de 1h30 por dia teve piores escores cognitivos que os de uso mínimo, e quem usava 3h por dia teve desempenho ainda menor em leitura, memória e vocabulário. Mesmo baixos níveis de exposição precoce já se associaram a prejuízos no desenvolvimento cognitivo

Pensam menos, cérebros passivos, e a atenção fica deteriorada pelos vídeos curtos e sem história ou reflexão, e pelas notificações que interrompem o tempo todo. “Brain Rot” e “Brain Fog”. Ficam incapazes de parar para pensar, olhar o entorno, conversar e muito menos ler. Conclusão quase que óbvia: quanto maior o uso de redes sociais, maior o empobrecimento cognitivo.

Com a chegada maciça da IA, os riscos de perdas cognitivas vão se agravar e muito. Na minha coluna sobre o tema, alertei para o sedentarismo cognitivo, que ocorre quando terceirizamos nossas mais nobres tarefas, o pensar criticamente, pesquisar, analisar, construir um argumento, para uma plataforma de inteligência artificial.

Quando um adulto faz isso, terá prejuízos, mas seu desenvolvimento cerebral está basicamente completo. Para crianças e adolescentes, é muito mais grave, pois não desenvolveram ainda as principais conexões e áreas cerebrais responsáveis por tarefas como essas. A plasticidade neural que favorece o desenvolvimento da linguagem, memória e atenção precisa ser treinada através de experiências reais, de esforço, de contato com textos e reflexões, pela necessidade de pensar, organizar argumentos e se comunicar.

Por isso é tão importante permitir que crianças e adolescentes; se desenvolvam plenamente, pelo menos até a puberdade, antes de acessarem redes sociais e IA. E quando o fizerem, terem a seu lado um adulto supervisionando e ajudando-os a exercer o pensamento critico.

Não é à toa que Dinamarca e Austrália proibiram redes sociais para menos de 15 e 16 anos, respectivamente. Certamente serão seguidos por outros países. Espero que o nosso seja um deles.

Por Daniel Becker