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Homenagem de Natal

Nesse Natal quis homenagear uma pessoa que vive os valores que essa festa representa, para além das confraternizações e presentes. A escolha veio com facilidade: o Padre Júlio Lancellotti. Um dos raros personagens que atravessam décadas mantendo integridade e coerência absoluta.

Nos anos 1980, quando o medo e o preconceito cercavam as primeiras vítimas da Aids, ele estava lá — não para julgar, mas para tocar, acolher, cuidar e enterrar com dignidade quem o mundo preferia esquecer. Inclusive crianças e adolescentes que viviam com HIV. Quando a distância parecia mais segura, ele escolheu a presença.

Desde então, sua trajetória é sempre coerente: estar ao lado dos que não têm voz, dos degredados da sociedade. Pessoas em situação de rua, usuários de drogas, migrantes, mulheres, famílias destroçadas pela pobreza e crianças. Crianças expulsas da infância pela fome, pela violência, pelo abandono.

Essa fidelidade ao Evangelho vivido, e não apenas pregado, explica por que ele incomoda tanto. Padre Júlio é alvo de ataques, difamações e perseguição da extrema direita. Não por erros, mas por coerência. Não por escândalos, mas por denunciar a hipocrisia de quem fala em “família” e “pela vida” enquanto aceita crianças dormindo na rua e prega o abandono, o oposto da solidariedade.

Padre Júlio incomoda porque lembra algo essencial: fé sem justiça social é farsa. E porque insiste, com o próprio corpo, que não há cristianismo possível sem compromisso radical com os pobres — especialmente com as crianças que o mundo insiste em descartar.

Sua vida é um testemunho de uma opção radical, como a de Cristo. E da mesma forma, é perseguido. Ele merece todas as nossas homenagens.

Por Daniel Becker