Celebramos, no último dia 1º de outubro, o Dia Internacional do Idoso e estamos na metade da Década do Envelhecimento Saudável (2021–2030), uma iniciativa global das Nações Unidas que, junto ao Plano Global da OMS sobre demência (2017-2025), incentiva todos os países a promover o envelhecimento com autonomia, saúde e participação social. Estes movimentos nos convidam a refletir sobre o envelhecimento como uma conquista social e sobre os desafios que se impõem em um cenário de crescimento acelerado das demências no Brasil. A expectativa de vida média no país já chega a 76,8 anos, e 15,6% da população é composta por pessoas idosas. Projeções indicam que, em 2050, esse grupo representará cerca de 30% da população nacional.
O Brasil é majoritariamente SUS-dependente (70% da população) e ainda enfrenta grandes desigualdades sociais, como baixa escolaridade, renda limitada, alta prevalência de sedentarismo e vulnerabilidades nutricionais e funcionais. Além disso, o envelhecimento é marcado por desigualdades que se expressam em diferentes dimensões sociais e territoriais. Essas desigualdades também se refletem no próprio Distrito Federal, onde há contrastes entre as Regiões Administrativas que impactam diretamente as condições de vida e o processo de envelhecimento da população.
Nesse contexto, o aumento das demências se apresenta como um dos maiores desafios dos próximos anos. Atualmente, 1,8 milhão de brasileiros vivem com algum tipo de demência, e esse número pode chegar a 5,7 milhões até 2050. Estudos indicam que cerca de 45% dos casos poderiam ser prevenidos ou retardados ao se controlar fatores de risco como hipertensão, diabetes, depressão, obesidade, tabagismo, inatividade física, perda auditiva, isolamento social e baixa escolaridade. Esse cenário destaca a importância de avançar nas ações de prevenção e cuidado integral previstas em agendas nacionais e globais sobre envelhecimento e demências.
Em países que já superaram a marca de 20% da população idosa, é inspirador observar ruas repletas de vitalidade, com idosos pedalando, utilizando meios de transporte públicos, se exercitando, frequentando parques e participando de atividades culturais e produtivas. Essa realidade mostra que envelhecer com autonomia e participação é possível quando políticas públicas, sociedade e universidades atuam de forma integrada. É nesse movimento coletivo que pesquisadores da UnB têm se destacado ao praticar os princípios da Década do Envelhecimento Saudável e ao contribuir para a consolidação das diretrizes nacionais de cuidado integral às pessoas com demência, transformando conhecimento em ação concreta.
No Campus Ceilândia da UnB, desenvolvemos projetos de pesquisa e extensão em parceria com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, voltados ao cuidado integral de pessoas idosas atendidas na rede pública. Participamos ativamente da avaliação geriátrica ampla de pacientes idosos na Região Oeste de Saúde do Distrito Federal, contribuindo para o diagnóstico e o encaminhamento adequados, especialmente de casos de declínio cognitivo e funcional. Nossas ações se desdobram em oficinas educativas e espaços para escuta para pacientes e cuidadores, boletins informativos para gestores e profissionais de saúde, formação de estudantes de Fisioterapia em práticas de cuidado centrado na pessoa e comunicação em saúde. Também desenvolvemos iniciativas que traduzem conhecimento científico em linguagem acessível, fortalecendo o apoio às famílias e à rede de cuidado.
Essas atividades fortalecem o vínculo entre universidade e comunidade e materializam os eixos centrais da Década do Envelhecimento Saudável, que incluem o combate ao preconceito etário, a promoção da capacidade funcional, os cuidados integrados e o acesso a cuidados de longa duração. Juntas, essas iniciativas reafirmam o compromisso coletivo com o envelhecimento ativo e com a prevenção das demências, integrando ciência, ensino, extensão e política pública.
Avançar nessa agenda exige o fortalecimento do financiamento público voltado à pesquisa, à extensão e à inovação em envelhecimento. Somente com apoio contínuo e recursos adequados será possível dar continuidade às metas pactuadas nas políticas e planos voltados ao envelhecimento saudável e ao cuidado integral das pessoas com demência. Com recursos adequados, pesquisadores da Universidade de Brasília poderão ampliar o alcance de suas ações, fortalecer parcerias interinstitucionais e desenvolver novas estratégias de cuidado que impactem diretamente a vida das pessoas idosas no Distrito Federal e no país.
Pesquisadores da UnB reforçam o compromisso com o envelhecimento ativo e o cuidado integral à pessoa idosa, em um contexto de aumento das demências e necessidade de maior investimento público.
