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Brasil, país que sempre pode piorar

Dizem por aí, naquele tom cansado de quem já nem se espanta, que vivemos o pior Congresso Nacional dos últimos 30 anos. É o que comentam, espalham, cochicham nos corredores, nos bares, nas redes sociais…, mas será mesmo? Ou é só mais uma dessas lendas políticas que o brasileiro repete como se fosse verdade absoluta?

Uma injustiça histórica com os anteriores, convenhamos, até porque, para ser o pior, precisa superar muita dedicação ao espetáculo de erros que já vimos antes. Aos congressistas atuais, porém, um recado afetuoso: fiquem tranquilos, queridos. Na República brasileira, que nasceu torta, cresceu manca e se especializou em tropeçar, sempre dá para piorar. Quem sabe estão apenas sendo vítimas de fofoca? Tudo coisa de fuxiqueiro, claro. Só boataria de quem não tem o que fazer e vive repetindo essas coisas como se fossem fatos.

E por falar em Congresso, há outro detalhe pitoresco: o nosso Congresso Nacional custa mais que muitas monarquias europeias inteiras. Sim, inteiras: rei, rainha, castelo, carruagem, mordomo, trompetista do palácio e tudo.

Ah, mas não para por aí, claro! O Palácio do Planalto, o nosso presidente do momento e a primeira-dama, aquela querida “Esbanja”, custam aos contribuintes uma fortuna muito maior do que chefes de Estado dos países mais ricos do mundo. Enquanto o primeiro-ministro do Canadá mostra sua humildade pagando a própria pizza, e o chanceler alemão é flagrado comprando pão no mercado como qualquer mortal, o brasileiro financia um verdadeiro conto de fadas que fariam qualquer família real europeia morrer de inveja. Que exemplo de modéstia, não?

E já que entramos no clima da realeza, estamos chegando novamente àquela deliciosa estação da política à brasileira: a época do clientelismo, do cabresto, dos brindes eleitorais, da promessa travestida de bondade. Meu amigo eleitor: fique esperto.

Enquanto isso, lá no Palácio, o governo resolveu elevar a culinária nacional a um novo patamar: mortadela para o povo, caviar para o presidente e champagne francês para os amigos do andar de cima. E, para completar o menu, andam circulando uns boatos saborosos por aí, dizem, só dizem, que existe até “gratificação/mesada” de R$ 300 mil para filho de presidente. Mas, claro, isso é só fofoca da mídia maldosa… essas línguas ferinas que adoram inventar moda. Afinal, no Brasil, até o escândalo vem servido com humor.

O brasileiro, por sua vez, virou especialista em rir da própria desgraça. Os humoristas agradecem, poucos povos no mundo pagam ingresso para rir da tragédia da própria vida.

Nos números oficiais, o cenário é ainda mais saboroso: mais da metade dos brasileiros vive às custas de algum tipo de assistência estatal — Bolsa Família, Auxílio Gás, Auxílio Alguma Coisa. Segundo o governo, mais de 50% da população vive com dinheiro público. E o IBGE mostra que 70% dos trabalhadores ganham até dois salários mínimos. O brasileiro médio sobrevive com R$ 2.995,00 por mês. Enquanto isso, no topo da pirâmide, políticos desfrutam banquetes de lagosta, pagos, é claro, por quem ganha R$ 2.995,00.

E na educação, o retrato só amplia o abismo: 38% não concluíram o ensino fundamental, 47% ficaram no médio, 19% chegaram ao superior (com aquela qualidade), e 29% são analfabetos absolutos ou funcionais. Ou seja, quase um terço da população não consegue interpretar um texto simples, mas vota, opina e compartilha correntes políticas como verdade absoluta. É o eleitorado perfeito para quem governa pelo emotivo, não pelo racional.

Agora, vejamos quem banca esse teatro: Dos 215 milhões de brasileiros, 39 milhões têm emprego formal, 11 milhões pagam Imposto de Renda, e, na prática, apenas 2,1 milhões sustentam o grosso da arrecadação nacional. É o 1% mais sobrecarregado do planeta. Financiam 200 milhões de pessoas. Se a monarquia inglesa é conhecida pelos seus castelos, a nossa República é conhecida pelas suas contas.

A classe média, essa sim é a besta de carga da Nação: paga DARF, DAS, gasolina com imposto duplo, escola particular porque a pública não dá, plano de saúde porque o público não atende, IPTU, IPVA, IR de 27,5% e ainda por cima ouve que é “privilegiada”.

E o agronegócio, setor que mais trabalha, mais produz, mais exporta e mais traz dólares? Virou vilão oficial de quem nunca plantou nem cebolinha na janela, mas se acha especialista em agroeconomia.

E por que esperar coerência de uma República que nasceu de um golpe, cresceu em golpes, amadureceu em contra-golpes e hoje vive de ameaças institucionais constantes? Todos dizem falar “em nome do povo”, mas só lembram do povo quando precisam dele. Depois, esquecem.

No fim, alguém sustenta essa festa e não é o político. É você. É o trabalhador que produz, o empreendedor que luta, o profissional que estuda, a classe média que paga, o agro que alimenta.

E a pergunta continua ecoando: está certo isso? Claro que não. Mas enquanto houver mortadela para uns, caviar para outros, eleitor com cabresto, a engrenagem continuará girando.

E, você que está saboreando a Mortadela, tá feliz? (kkk….) A conta, ah, a conta, essa sempre chega. E sempre para os mesmos.

Por Prof. Naime Márcio Martins Moraes