Jovens… mal saíram da adolescência, nem sequer provaram o gosto amargo e doce da vida. Muitos nunca tiveram um amor, nunca sentiram o calor de um abraço apaixonado ou o consolo de um colo amigo. E, mesmo assim, são arrancados dos seus sonhos, jogados no fogo de uma guerra que não compreendem — obrigados a matar e a morrer por ideais que nunca escolheram.
A juventude lhes é roubada por ordens de um tirano — um homem que mente com os dentes cerrados e manipula com palavras doces a mente de uma sociedade cega, surda ao sofrimento, muda diante da injustiça. Ele veste a guerra com vestes de honra, mas ela fede a sangue, medo e silêncio.
Enquanto esses meninos matam outros meninos, enquanto tombam em terras distantes, o mundo gira como se nada acontecesse. As famílias seguem com seus dias comuns — cafés da manhã tranquilos, novelas à noite, risos vazios — como se a tragédia não estivesse acontecendo agora, lá fora, nos campos de batalha.
E assim, entre mentiras e silêncios, a juventude vai sendo enterrada, não apenas nos cemitérios, mas na memória de uma humanidade que finge não ver.
Tudo isso em pleno século XXI, quando a humanidade se orgulha de seus avanços tecnológicos, científicos e sociais, um espetáculo cruel e vergonhoso segue em cena: a guerra. E com ela, a barbárie travestida de heroísmo, onde meninos e até meninas são jogados no front, enviados para matar pessoas que nunca viram, que não conhecem, por razões que sequer compreendem.
Enquanto, os líderes que apertam botões e assinam decretos de guerra desfrutam do luxo de palácios, mansões e banquetes, um garoto de 18 ou 19 anos agoniza em um campo enlameado, com os ossos esmagados por estilhaços, o presidente da nação ergue taças de cristal com vinho caro, cercado de conforto, segurança e privilégios. Nenhum filho de político vai à guerra. Nenhum neto de banqueiro empunha um fuzil. A bucha de canhão tem nome, endereço e classe social: é sempre o filho do povo.
Famílias inteiras, que passaram a vida construindo um lar, de repente veem tudo reduzido a escombros. Casas erguidas com anos de suor, trabalho e sacrifício são destruídas em segundos por mísseis que rasgam o céu, deixando no chão não só concreto quebrado, mas também sonhos, memórias, histórias, restando-lhes o exílio forçado. Mulheres, crianças e idosos, de malas improvisadas nas mãos e lágrimas no rosto, atravessam fronteiras em busca de abrigo em terras que sequer falam sua língua.
E tudo isso, alimentado por uma engrenagem sórdida: a indústria da guerra. Bilhões e bilhões são lucrados a cada bomba fabricada, a cada bala disparada, a cada tanque vendido.
Um comércio que prospera enquanto pessoas morrem. E não são apenas os senhores da guerra locais que lucram. Líderes mundiais, governos estrangeiros, corporações bilionárias — todos eles veem na destruição uma oportunidade de enriquecimento. Porque, no mercado da morte, quanto mais sangue, mais lucro.
E o mundo? O mundo assiste. Um mundo anestesiado, apático, onde a tragédia virou entretenimento e a dor alheia não dura mais que alguns segundos no feed das redes sociais. As lágrimas das mães, que enterram filhos que nem chegaram a viver plenamente, não ultrapassam fronteiras. A agonia dos pais, que recebem o corpo do filho embrulhado em uma bandeira, não comove mais ninguém. É assustador constatar que, em plena era da informação, da globalização e dos discursos sobre humanidade, justiça e paz, a guerra ainda se sustenta.
E mais assustador ainda é perceber o quanto ela se tornou pano de fundo, mero ruído, para uma sociedade cada vez mais mergulhada no individualismo, na apatia e na indiferença.
E então, diante de tudo isso, resta a pergunta que grita, ecoa e dói: quem se incomoda? Quem, de fato, se importa?
