
Compreender as diferenças e enxergar valor na diversidade através das trocas. É este um dos pilares da campanha deste Junho Violeta, de proteção e respeito às pessoas idosas, promovida pelo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC): “Entre Gerações – Laços que Protegem”. O objetivo é demonstrar como a troca de experiências e conhecimentos é um poderosa ferramenta na integração entre pessoas de diversas faixas etárias e um valioso instrumento no enfrentamento às violências praticadas contra pessoas idosas.
O secretário nacional dos Direitos da Pessoa Idosa (SNDPI) do MDHC, Alexandre da Silva, destaca que o Brasil é marcado por velhices plurais. “Essa diversidade vem das diferenças. Então, a diferença de você envelhecer na área rural, na área urbana, de ser negro, ser uma pessoa de pele mais clara, ser uma pessoa LGBT, a diferença de você estar numa área onde predominam alguns grupos de povos tradicionais”, exemplifica.
De acordo com o secretário, infelizmente, a diversidade é tratada com preconceito de forma frequente, o que impacta as vivências das pessoas, fazendo com que esta característica rica do nosso país torne-se um desafio a ser superado.
“Essas diferenças, sendo mal interpretadas e mal reconhecidas nos mais diversos espaços do nosso país, geram desigualdades. Essas desigualdades muitas vezes comprometem o direito de envelhecer desses grupos, dessas pessoas, com dignidade, e muitas, infelizmente, não vão alcançar o critério etário que o Brasil adotou para se considerar uma pessoa idosa, que é aquela que tem 60 anos”, alerta o titular da SNDPI.
Políticas públicas
Alexandre da Silva frisou que o MDHC parte da premissa de que é necessário compreender esta diversidade para garantir que todos tenham direito a envelhecer com dignidade, independentemente de seus contextos e histórias.
O titular da SNDPI ressalta que, pela primeira vez, o país trata questões interseccionais ao formular políticas públicas para as pessoas idosas. Conforme o secretário, são levados em consideração todos os marcadores que atravessam a vida dos brasileiros: ser mulher, homem, cis, trans, viver na zona rural ou urbana, ser uma pessoa indígena, quilombola, escolaridade, situação econômica, entre tantos outros fatores.
“Então, tudo isso vai determinando o que cada grupo tem de potencialidades e, ao mesmo tempo, quais são os direitos infringidos, os direitos comprometidos desses grupos. Nosso ministério vem justamente com programas como Envelhecer nos Territórios ou Viva Mais Cidadania, buscando garantir que as ações de equidade possam estar presentes na vida dos mais diversos grupos que têm suas particularidades”, enfatizou.Pitty Barbosa destaca que envelhecer é ainda mais difícil para pessoas com orientações sexuais e de gênero dissidentes (Foto: Pitty Barbosa)

Diversidade
Pitty Barbosa, de 64 anos, mãe de um jovem de 25 anos e avó de uma menina de três, é uma mulher travesti que atualmente preside a ONG Igualdade Guaíba. Para Pitty, envelhecer é ainda mais difícil para pessoas com orientações sexuais e de gênero que divergem daquelas consideradas mais aceitas pela sociedade. “Envelhecer no Brasil é difícil. Se para uma mulher cisgênero já é difícil, imagine para uma travesti com 60 anos. Não tem chance nenhuma”, lamenta.
Ela conta que muitas vezes as mulheres travestis e trans preferem deixar de se identificar como tal para sobreviver. “A gente já é invisibilizada, mesmo quando jovem; quando velha, então, piora. Muitas travestis deixam de ser travestis e voltam a se identificar como gays para serem aceitas pela família quando chegam aos 60 anos. A sociedade não aceita nem nas pistas, fazendo o programa”, diz. De acordo com Pitty, embora as questões LGBTQIA+ estejam se tornando mais visíveis, as experiências dos idosos muitas vezes não são reconhecidas. “A luta por direitos para essa comunidade também precisa incluir os mais velhos, mas, muitas vezes, faltam políticas que cuidem de suas necessidades”, assinala.
A pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Ana Amélia Camarano, especialista em pesquisa sobre população idosa, aponta que a oferta de cuidados para a população idosa, que inclua suas especificidades, precisa ser compartilhada pelo setor público e privado, além das famílias e da comunidade. “A responsabilidade de cuidados recai sobre a esposa ou sobre os filhos, e isso gera muita atenção, desgaste e estresse, inclusive é um fator gerador de violência: a falta de políticas de cuidado”, aponta.
Educação é a saída para que as populações acolham com respeito e dignidade as velhices diversas, segundo Ana. No Atlas da Violência 2025, ela explica que as pessoas não têm direito à velhice de forma igualitária, justamente em razão das opressões sofridas. “O primeiro direito do Estatuto da Pessoa Idosa é o direito à vida. E as pessoas têm acesso a esse direito de forma diferente. A idade média ao morrer entre o homem negro e a mulher branca é distinta, porque a mulher vive mais do que o homem, independentemente da raça, e se você cruza com raça, ela viveria cerca de sete anos a mais que o homem”, analisa.
Conforme a especialista, a juventude é negra e a velhice é branca, uma vez que menos jovens negros alcançam mais de 60 anos que os brancos. Ela contextualiza que um homem negro tem mais dificuldade de inserção no mercado de trabalho, tem empregos de maior risco, menor segurança, vive com menos saúde e não tem oportunidades iguais aos brancos. Ana Camarano avalia que, para transformar esse cenário, é necessário que haja uma mudança cultural por meio da educação. “É preciso trabalhar isso nos meios de comunicação, nas escolas, para mostrar que as pessoas são humanas. Todas as pessoas são seres humanos que merecem respeito e acolhimento”, defende.
Fonte: Agência Gov | Via MDHC