Pular para o conteúdo

O fator que emperra delação de peça-chave do escândalo do INSS

Fachada do prédio do INSS em Brasília — Foto: Divulgação/INSS

Um dos nós que ainda falta para desatar nas negociações do acordo de colaboração premiada do empresário Maurício Camisotti com a Polícia Federal tem a ver com o valor que ele teria de devolver às autoridades por envolvimento no esquema bilionário de corrupção no INSS.

Peça-chave das investigações, Camisotti está preso desde setembro no Centro de Detenção Provisória de Guarulhos, em São Paulo, e junto com Antônio Carlos Camilo Antunes, o “careca do INSS”, é apontado como um dos líderes do esquema de desvios do dinheiro das aposentadorias.

Dono de companhias que atuam na área de seguros e planos de saúde, o empresário tentou, nas últimas semanas, negociar um acordo de colaboração premiada com a Polícia Federal, conforme apurou o blog com três fontes a par das discussões.

Mas a negociação até agora não andou, porque ele ainda não teria se disposto a cumprir as duas principais exigências da PF e do Ministério Público: fornecer informações inéditas sobre o esquema e devolver o dinheiro que foi desviado.

“Ele tem um patrimônio muito grande e está dizendo que parte do que tem não é roubado”, disse ao blog uma das fontes que acompanham de perto as tratativas. “Ele [Camisotti] quer uma separação, uma definição [do que é patrimônio lícito, do que é fruto do esquema de desvio], porque tá tudo bloqueado.”

O empresário é investigado pela PF como beneficiário direto das fraudes e apontado como sócio oculto de entidades ligadas às associações que fizeram descontos indevidos em milhares de aposentadorias.

De acordo com a investigação, Camisotti controlava três entidades que faturaram mais de R$ 1 bilhão com os descontos ilegais, e teria recebido pelo menos R$ 43 milhões dessas entidades. Ao todo, o esquema teria desviado R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, além de desencadear uma das maiores crises políticas do governo Lula.

Só a mera possibilidade de uma delação do empresário já provoca pânico no meio político de Brasília entre parlamentares de diferentes siglas, que temem ser arrastados para o centro do escândalo a menos de um ano das próximas eleições.

Acordo depende de homologação

Um eventual acordo de colaboração premiada precisaria ser homologado pelo relator das investigações, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) André Mendonça, que determinou nesta quinta-feira a prisão do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto.

Os investigadores descobriram que Stefanutto passou a receber uma propina de R$ 250 mil mensais de uma das entidades investigadas pelo esquema de descontos ilegais nas pensões de aposentados depois de assumir o comando do instituto vinculado ao Ministério da Previdência Social.

No Congresso, integrantes da CPI do INSS demonstram otimismo com as negociações em torno da delação de Camisotti e avaliam que o acordo, caso seja fechado, pode dar um novo fôlego às apurações em curso.

Procurado pelo blog, o advogado Pierpaolo Bottini, que cuida da defesa de Camisotti, não se manifestou. Já a assessoria de imprensa do empresário afirma que “não há tratativa de acordo de delação premiada” e alegou que o patrimônio dele é resultado de “seu trabalho de mais de 40 anos no mercado de saúde, amplamente reconhecido”.

Fonte: O Globo