Conselhos de direitos fortalecem atuação conjunta no combate à violência contra mulheres, com foco crescente na proteção da mulher idosa, uma das mais afetadas pela violência patrimonial

Durante o Agosto Lilás — mês de conscientização e enfrentamento à violência contra a mulher —, entidades e conselhos de direitos em Mato Grosso têm reforçado a importância de ampliar o olhar sobre as múltiplas formas de violência que atingem as mulheres em diferentes fases da vida, com atenção especial às mulheres idosas, grupo cada vez mais vulnerável, mas frequentemente invisibilizado nas políticas públicas.
A necessidade de ações integradas voltadas a essa população foi uma das pautas da 5ª Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres de Mato Grosso, realizada nesta quarta e quinta-feira (13 e 14), no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. O encontro reuniu mais de 320 participantes, entre delegadas de entidades governamentais, organizações da sociedade civil, representantes de municípios, servidores públicos e convidados.
A conferência estadual é preparatória para a etapa nacional, que ocorrerá entre os dias 29 de setembro e 1º de outubro, em Brasília. Entre os eixos debatidos, destacou-se a necessidade urgente de fortalecer a rede de proteção às mulheres idosas, vítimas não apenas de violência física ou psicológica, mas especialmente de violência patrimonial, uma das formas mais comuns e menos denunciadas.
De acordo com a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Cenira Evangelista, a aproximação entre conselhos tem sido uma estratégia fundamental para combater esse tipo de violência. “Nós temos percebido um crescimento alarmante da violência patrimonial contra mulheres idosas. São relatos de controle abusivo do salário, apropriação de bens e até mesmo fraudes. Por isso, propusemos uma parceria com o Conselho Estadual da Pessoa Idosa, para unirmos esforços em campanhas, orientações jurídicas e palestras direcionadas a esse público”, afirmou.
Cenira destacou ainda a presença ativa de mulheres idosas durante a conferência, com participação na construção de propostas que serão levadas à conferência nacional. “Elas não apenas estavam presentes, mas trouxeram relatos e sugestões valiosas. É fundamental ouvi-las e reconhecê-las como protagonistas na defesa dos seus próprios direitos”, completou.
Mato Grosso lidera feminicídios pelo segundo ano consecutivo
O debate ocorre em um contexto alarmante para o estado. Mato Grosso registrou, em 2024, pelo segundo ano consecutivo, a maior taxa proporcional de feminicídios do Brasil, com 2,5 casos por 100 mil habitantes, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Foram 47 mulheres assassinadas por motivação de gênero no último ano, o que acende um alerta para o fortalecimento urgente das políticas públicas voltadas à prevenção e proteção das mulheres.
Compromisso do Conselho da Pessoa Idosa
Presente na conferência, o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (CEDEDIPI-MT), o advogado Isandir Rezende, reforçou o compromisso em trabalhar de forma articulada com outras instâncias de controle social para proteger a mulher idosa.
“A mulher idosa enfrenta uma dupla vulnerabilidade: por gênero e por faixa etária. Muitas vezes, ela depende financeiramente de familiares ou cuidadores que, infelizmente, são os próprios agressores. A violência patrimonial, em especial, precisa de uma resposta pública mais eficiente, com ações educativas e canais de denúncia acessíveis“, afirmou.
Isandir também ressaltou que o CEDEDIPI atuará em conjunto com o Conselho da Mulher na formulação de campanhas específicas e na promoção de ações educativas voltadas à prevenção desse tipo de violência.
“Nosso papel é também garantir que o Estado esteja atento às novas formas de violência que surgem com o envelhecimento da população. A mulher idosa precisa ser vista, ouvida e protegida“, completou.
Avanços e desafios
Apesar da existência de programas sociais em âmbito estadual, como o “Ser Família Idoso“, o desafio, segundo os conselhos, é ampliar a capilaridade dessas ações e garantir que elas cheguem aos municípios com foco em prevenção, orientação e acolhimento.
A proposta de integração entre os conselhos é vista como um caminho promissor para construir políticas públicas mais sensíveis às realidades específicas de cada grupo de mulheres — sejam elas adolescentes, adultas ou idosas.
“Precisamos pensar em políticas públicas que acompanhem a mulher ao longo de toda a sua vida. O que hoje afeta de forma silenciosa a mulher idosa pode ser prevenido com educação e redes de apoio desde a juventude“, concluiu Isandir Rezende.