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Por que o tempo parece passar mais rápido à medida que envelhecemos

Segundo pesquisadores, com a idade, o cérebro tende a registrar menos “eventos” distintos por unidade de tempo — Foto: Pixabay

À medida que as pessoas envelhecem, muitas afirmam que o tempo parece acelerar. Um novo estudo científico sugere que essa percepção pode estar relacionada à forma como o cérebro processa os eventos que ocorrem no dia a dia. De acordo com os pesquisadores, com a idade o cérebro tende a registrar menos “eventos” distintos por unidade de tempo, o que faz com que as experiências pareçam acontecer mais rápido do que realmente acontecem.

O estudo, publicado em 30 de setembro na revista Communication Biology, analisou o comportamento cerebral de 577 participantes com idades entre 18 e 88 anos. Todos assistiram a um trecho de oito minutos do episódio “Bang! You’re Dead” (“Bang! Você está morto”), da série Alfred Hitchcock Presents. Os cientistas escolheram esse material porque pesquisas anteriores demonstraram sua capacidade de sincronizar a atividade cerebral entre diferentes espectadores, o que permite avaliar como o cérebro segmenta os acontecimentos.

Durante a triagem, a atividade cerebral foi registrada por meio de ressonância magnética funcional (RMF). Em seguida, foi aplicado um algoritmo chamado Busca de Limites de Estado Guloso (GSBS), projetado para detectar quando o cérebro muda de estado — ou seja, como ele percebe o fim de um evento e o início do próximo.

Os resultados mostraram que os cérebros dos participantes mais velhos apresentaram menos transições entre estados neurais durante o vídeo. Em outras palavras, eles registraram menos mudanças no mesmo intervalo de tempo.

— Isso sugere que estados neurais mais longos [em quantidades menores] dentro do mesmo período podem contribuir para que os idosos experimentem o tempo mais rápido — explicaram os autores.

Quanto mais eventos uma pessoa percebe em um determinado intervalo de tempo, mais longo esse período parece quando é lembrado. Portanto, se o cérebro envelhecido capta menos eventos, sua percepção do tempo se comprime. Esse fenômeno está ligado à “desdiferenciação neuronal”, um efeito comum do envelhecimento em que diferentes áreas do cérebro perdem especificidade funcional, mesmo na ausência de doenças.

Nos adultos mais velhos, essa “perda de especialização” afeta funções como a memória e a velocidade de processamento de novas informações. Em contraste, os cérebros jovens mostram alta especialização: por exemplo, os neurônios dedicados ao reconhecimento de rostos se ativam quase exclusivamente diante de estímulos sociais. Essa menor diferenciação no cérebro envelhecido reduz a clareza entre o início e o fim dos acontecimentos, fazendo com que o fluxo das experiências pareça mais contínuo e, portanto, que o tempo passe mais rapidamente.

Os pesquisadores também exploraram se é possível reverter essa sensação de aceleração. Linda Geerligs, da Universidade Radboud, acredita que manter-se ativo e aberto a novidades pode ajudar. Em entrevista à Live Science, a pesquisadora comenta sobre a importância de se envolver em certas atividades e privilegiar as conexões humanas fazem toda a diferença na percepção do tempo.

— Aprender coisas novas, viajar e se envolver em atividades inovadoras pode ajudar o tempo a parecer mais longo em retrospecto. Talvez ainda mais importantes sejam as interações sociais significativas e as atividades que trazem alegria, que também podem contribuir para uma percepção mais completa do tempo — afirma.

Pesquisas sugerem que o cérebro registra a vida por meio dos eventos que ocorrem, não da passagem contínua de segundos. Em estudos complementares, voluntários foram solicitados a assistir a filmes e pressionar um botão cada vez que percebiam o fim de um evento. Esses limites, chamados “padrões de eventos”, são semelhantes entre os indivíduos e estão relacionados à qualidade da memória.

Se o cérebro envelhecido captura menos eventos, sua percepção do tempo é comprimida — Foto: Pixabay

Embora o número de eventos registrados diminua com a idade, a estrutura geral de segmentação permanece estável. Esse equilíbrio entre continuidade e fragmentação explicaria por que o tempo parece passar mais rápido com a idade, mesmo que o cérebro continue a organizar as experiências de forma coerente.

Fonte: O Globo