
Quando Florene Shuber tinha cerca de 82 anos, notou que às vezes tropeçava e caía. “Uma coisa que os idosos não percebem quando caem é que eles não sabem que estão em queda até estarem a mais ou menos isso de distância do chão”, diz ela, segurando os dedos a cerca de dois centímetros um do outro. “Achei bem assustador. Aconteceu duas ou três vezes. E pensei: tenho que fazer algo a respeito.”
Havia uma pequena academia perto de onde morava, pela qual passava havia anos, e finalmente entrou para pedir um encontro com um treinador. Ela começou a se exercitar regularmente.
Florene tem 91 anos agora e conta que se sente mais jovem e mais forte do que há dez anos. “Você pode melhorar. Eu vejo isso em mim, com certeza”, avalia. Mas acrescenta que é um trabalho difícil. “É preciso consistência.”
Algumas pessoas veem o envelhecimento como um declínio inevitável. Mas uma nova pesquisa publicada na revista PLOS One mostra que é possível, para muitos adultos acima dos 60 anos, recuperar força e bem-estar, mesmo depois de problemas de saúde.
“Nunca é tarde demais”, resume a primeira autora Mabel Ho, recém-doutora pela Universidade de Toronto.
O estudo começou a partir da pesquisa de Mabel sobre envelhecimento bem-sucedido no Canadá. Trabalhando com sua professora e coautora Esme Fuller-Thomson, ela analisou dados do Canadian Longitudinal Study on Aging para entender quais fatores contribuem para prosperar na velhice – definida como uma sensação autorrelatada de bem-estar físico, psicológico, emocional e social, independentemente de condições crônicas. Talvez sem surpresa, exercício e estilo de vida saudável foram essenciais.
Os dados vieram de um estudo de saúde e envelhecimento que acompanhou 51.338 canadenses por 20 anos para avaliar o que contribui para uma vida longa e saudável.
O que chamou a atenção dos pesquisadores foi um grupo de idosos – 8.332 pessoas – que relataram estar com a saúde ruim em uma ou mais áreas, mas que haviam revertido esse quadro três anos depois, quando os dados foram coletados novamente. Eles se concentraram em sua saúde e viram resultados.
“Notamos que algumas pessoas realmente melhoram com o tempo”, conta Mabel. “Foi assim que chegamos a essa descoberta muito encorajadora que chamamos de ‘recuperar o bem-estar’.”
O passo seguinte foi determinar quais fatores estão correlacionados à melhora. Os dados mostraram várias coisas que os idosos podem fazer, algumas surpreendentes para os pesquisadores.
O maior benefício? Cuidar da saúde mental
Ao observar de perto quem recuperava o bem-estar, os pesquisadores notaram que pessoas que relatavam ter boa saúde mental apresentavam quase cinco vezes mais chances de estar em ótimo estado de bem-estar três anos depois – aquele conjunto de sensação física, psicológica, social e emocional positiva. “Isso não era o que eu esperava”, observa Esme.
Acontece que, se você não estava deprimido no início, tinha muito mais probabilidade de encontrar motivação para fazer outras coisas importantes para melhorar a saúde.
A constatação reforça que idosos com dificuldades físicas talvez precisem, sempre que possível, cuidar primeiro das necessidades psicológicas e emocionais – especialmente se estiverem solitários.
“O isolamento social é realmente problemático para todos os desfechos”, informa Esme. Ela acrescenta que ter boa saúde mental e desenvolver conexões sociais sólidas exige esforço, mas não significa mudar de personalidade.
“Não quero que a mensagem seja que você precisa ser um extrovertido empolgado para envelhecer bem. Conexão social é o que você define como conexão. Então, se você tem um ou dois grandes amigos que são tudo o que precisa na vida, mas são maravilhosos, isso é realmente importante”, esclarece Esme.
Para Florene, viver em uma comunidade de aposentados ajudou a manter os vínculos, especialmente à medida que perdeu amigos e familiares com o passar dos anos. “Muita gente não quer ir para uma casa de repouso, e eu entendo”, diz. “Mas fica mais difícil quando você vive sozinho.” Ela conta que, para ela, planejar e viajar em grupo foi fundamental para manter conexões.
É possível ficar mais forte em qualquer idade
A maioria dos fatores que previam se uma pessoa idosa conseguiria recuperar o bem-estar ideal se resumiam a escolhas básicas de estilo de vida: não fumar (ou, se fuma, parar), alimentar-se bem e dormir o suficiente.
O exercício também foi essencial, como Florene descobriu quando começou a treinar com um profissional. A atividade física pode mudar a velocidade do envelhecimento, sendo tanto o treino aeróbico quanto o de força importantes. Nunca é tarde demais para começar, reforçam os pesquisadores, mas enfatizaram que os benefícios são ainda maiores se iniciados antes. Basta garantir que o exercício seja adequado ao nível de condicionamento, e consultar um médico se houver dúvidas.
“Acho que temos uma mensagem para pessoas de todas as idades”, avisa Mabel. “Nunca é cedo demais para adotar um estilo de vida ativo e saudável. Comer bem, se exercitar, dormir bem – isso é algo que todos podemos preparar para o nosso próprio envelhecimento.”
“Quero dizer, são todas aquelas coisas que sua mãe dizia”, comenta Esme.
Uma limitação reconhecida pelos pesquisadores é que, como o estudo foi feito no Canadá, todos os participantes tinham acesso a cuidados médicos gratuitos.
Segundo eles, o objetivo principal é mudar a narrativa sobre envelhecer: a velhice não é só declínio – pode ser também um período em que as pessoas ficam mais fortes e saudáveis, e os dados comprovam isso.
Fonte: Estadão





