
Pesquisas na Itália e nos Estados Unidos indicam que Emma Maria Mazzenga, natural de Pádua, Itália, uma corredora de 92 anos, possui células musculares “de uma jovem de 20 anos”. Com quatro recordes mundiais em sua categoria, a atleta corre regularmente e mantém uma condição física comparável à de alguém várias décadas mais jovem.
Mazzenga iniciou sua carreira no atletismo aos 19 anos na Universidade de Pádua, onde estudou ciências biológicas. Após se formar em 1957, competiu por mais quatro anos, mas teve que interromper suas atividades esportivas devido à doença de sua mãe.
Vinte e cinco anos depois, a mulher retomou o treinamento e não parou mais. A atleta disse que “tudo começou a acontecer” quando quebrou o recorde mundial dos 200 metros indoor para sua faixa etária em janeiro passado, com o tempo de 54,47 segundos. “Acabei nos jornais, algo que nunca tinha acontecido comigo antes”, disse ela ao The Washington Post.
Ela também estabeleceu um novo recorde mundial ao ar livre para mulheres acima de 90 anos nos 200 metros, com um tempo de 51,47 segundos, e um mês depois melhorou seu próprio tempo em um segundo. Em ambas as ocasiões, ela competiu apenas contra si mesma.
Suas conquistas chamaram a atenção de cientistas na Itália e nos EUA, que atualmente estudam os músculos e nervos da atleta para entender como ela consegue correr aos 90 anos. A análise da condição física de Mazzenga faz parte de um esforço de profissionais para entender como os tecidos evoluem com a idade.
Segundo os pesquisadores, a corredora mantém uma capacidade cardiorrespiratória equivalente à de uma pessoa de 50 anos, e suas mitocôndrias funcionam tão bem quanto as de uma pessoa saudável de 20 anos.
Marta Colosio, pesquisadora de pós-doutorado na Universidade Marquette e principal autora do estudo, observou que não conseguiu encontrar outro idoso de 90 anos que se comparasse a Mazzenga. “Ela está envelhecendo, mas consegue fazer coisas que pessoas de 91 anos não consegue”, disse.
Cientistas revelaram por que os músculos do atleta parecem os de um jovem de 20 anos
Simone Porcelli, colíder da pesquisa e professora associada de fisiologia humana na Universidade de Pavia, foi uma das que acompanhou de perto a notícia do recorde mundial de Mazzenga. Na época, ela coordenava um estudo longitudinal sobre a função física de mais de 100 adultos de meia-idade e idosos na Itália e considerava a atleta “a pessoa mais perfeita para o projeto”.
A equipe pegou uma pequena amostra do músculo quadríceps da atleta, do tamanho de uma borracha, e a enviaram para a Universidade Marquette para análise, explicou Chris Sundberg, colíder do estudo sobre Mazzenga e diretor do Laboratório de Fisiologia Muscular Integrativa e Energética da Universidade Marquette.
No microscópio, o tecido da atleta tecido mostrou que suas fibras de contração rápida, associadas à velocidade, assemelhavam-se às de uma pessoa saudável de 70 anos. Em contraste, suas fibras de contração lenta, associadas à resistência, assemelhavam-se às de uma pessoa de 20 anos, assim como o fluxo sanguíneo e as vias nervosas para seus músculos. Para avaliar sua aptidão cardiovascular e a força das pernas, os pesquisadores a submeteram a testes de ciclismo e levantamento de peso.
A atleta se destaca pela eficiência no fornecimento de oxigênio aos tecidos, e suas mitocôndrias estão “bem preservadas”, acrescentaram os cientistas.
“Seja por genética, estilo de vida ou uma combinação de ambos, ela consegue manter a comunicação entre o cérebro, os nervos e os músculos em um nível muito mais saudável do que normalmente vemos em uma pessoa de 90 anos”, disse Sundberg. As partes que funcionam corretamente parecem “compensar quase completamente” suas fibras de contração rápida, acrescentou.
Como é o treinamento?
O conselho de Mazzenga para outros atletas é conhecer seus limites e consultar um médico antes de começar a correr. Ela afirmou que a chave é a consistência. Seus treinos de pista duram cerca de uma hora. Ele começa com um aquecimento seguido de sessões curtas de corrida. Em seguida, ele treina a distância que vai competir, descansando entre cada série.
Durante a pandemia do coronavírus, Mazzenga disse que corria dentro de casa, num corredor de 20 metros, ou saía escondido à noite para dar voltas no quarteirão. “ O esporte me deu muita coisa. Eu diria que foi uma tábua de salvação. Não gosto de ficar só passando o tempo, esperando a noite cair. Preciso de ação”, disse ela.
Atualmente, ela se prepara para competir nos 100 e 200 metros em setembro, em Catânia, na Itália. Após a corrida, ela planeja retornar à Universidade de Pavia para mais um dia de testes e, em novembro, começará seu treinamento indoor para a temporada de inverno. “Mas, dada a minha idade, isso não é garantido. Faço planos mês a mês, nada além disso”, disse a atleta.
Fonte: O Globo





