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Vacinas salvam, o Congresso destrói

Jovem toma vacina contra a gripe no Rio — Foto: Divulgação Secretaria Municipal de Saúde / Foto de Erbs Jr.

São impressionantes os avanços que o Brasil tem feito na área da vacinação. O SUS vem incorporando vacinas importantes, modernas, efetivas e seguras, e que farão muita diferença na saúde de nossas crianças.

Como noticiei 4ª feira no meu blog, a Anvisa aprovou a Butantan-DV, primeira vacina de dose única contra dengue no mundo para pessoas de 12 a 59 anos. Todos os critérios de segurança, eficácia e qualidade foram atendidos. A proteção contra a doença é excelente: 79,6%, e mais de 90% para formas graves e hospitalizações. Crianças e idosos ficam de fora por ora, mas serão indiretamente protegidos pela redução de casos que a vacina provoca coletivamente. E novos estudos deverão avaliar sua inclusão.

Por ser uma vacina em dose única, a vacina tem potencial de gerar cobertura muito maior, especialmente em populações vulneráveis. E por ser produzida no Brasil, com tecnologia nacional (que pode aliás pode revolucionar a prevenção da dengue no mundo todo), teremos menos riscos de atrasos e interrupções no fornecimento (especialmente em surtos), maior previsibilidade e preço mais baixo para o SUS. O Ministério já garantiu 30 milhões de doses no segundo semestre de 2026.

Outros avanços notáveis estão sendo feitos. Em dezembro o SUS deverá começar a vacinar gestantes com a vacina contra o VSR. A vacina tem alta efetividade em proteger os bebês até cerca de 6 meses contra o VSR, vírus que é a principal causa da bronquiolite, doença que mais causa internações e óbitos de bebês até 6 meses no Brasil. Além disso, o Ministério da Saúde vai oferecer o nirsevimabe, anticorpo monoclonal altamente eficaz para a prevenção da doença, a prematuros abaixo de 37 semanas de gestação e bebês com comorbidades, que representam o grupo de maior risco. São produtos caros e avançados, que em poucos países são oferecidos gratuitamente a população.

Outra mudança já encaminhada para 2026 é a troca da vacina Pneumo 10 pela Pneumo 20. Esses números indicam a quantidade de cepas da bactéria Pneumococo incluídas no imunizante. Essa ampliação passa a incorporar as cepas mais implicadas nas pneumonias em nosso país, protegendo melhor nossa população contra uma doença grave.

Esses avanços vêm a se somar à substituição da vacina contra poliomielite oral pela injetável, mais segura, e à troca da vacina contra meningite C pela ACWY, na dose de reforço aos 12 meses. Com tudo isso, a proteção integral de nossa infância melhora significativamente, repercutindo positivamente na redução da mortalidade infantil, do sofrimento das famílias e da sobrecarga dos hospitais.

Por outro lado, notícias sombrias vem do nosso Congresso, que a cada dia confirma sua qualificação de pior da história. A derrubada dos vetos do presidente Lula ao PL da Devastação é mais uma afronta aos interesses e ao bem estar da nossa população, e em especial da nossa infância.

Com esse ato, abrem-se as portas para um novo ciclo de desmatamento, invasões de terras indígenas, pecuária e monoculturas predatórias, obras sem controle em biomas frágeis e liberação desenfreada de usinas e projetos de mineração. A Amazônia pode ser empurrada rumo ao colapso. O mesmo pode acontecer com outros biomas, como o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica.

O Congresso está, em essência, promovendo os extremos climáticos (como ondas de calor terrível, longas secas e grandes enchentes), a insegurança alimentar pela perda de safras do próprio agro, e mesmo ameaçando a sobrevivência da humanidade.

Nosso país poderia ter um papel oposto, o de liderar o combate à crise climática, mas nossos congressistas não estão à altura desse papel. O governo vai tentar agir através de portarias e decretos e possivelmente com ações junto ao STF. E nosso papel se torna cada vez mais importante: protestar e votar melhor para o congresso no ano que vem.

Por Daniel Becker