
O aumento de candidatos idosos no ENEM 2025 revela uma geração que busca propósito, saúde e novos começos por meio do aprendizado contínuo
Na manhã em que milhares de jovens ocupavam os ginásios e escolas para fazer a prova do ENEM, outra cena ganhou flashes, a de pessoas com mais de 60 anos, cadernos em mãos, levando a sério a caneta, a redação, o número da sala. A edição de 2025 do exame registrou 17.192 inscritos com 60 anos ou mais, um salto de 191% em relação a 2022. Este crescimento inusitado não aparece apenas como estatística, mas como indício de uma mudança cultural de que aprender não é privilégio dos jovens, reinventar-se tampouco.
Para o médico Armindo Matheus, diretor da clínica Nova Saúde, o tema da redação deste ano (Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira) não poderia ter sido mais tocante para esse grupo. “Se você prestar a atenção vê que eles não trouxeram uma ideia de apontar os desafios do envelhecimento, mas de trazer perspectivas. Isso mostra que a sociedade reconhece que os 60+ estão ativos, engajados e interessados em continuar aprendendo e contribuindo”, observa.
Idade não define
O dado da participação de idosos aponta que pessoas nessa faixa etária não estão apenas acompanhando, mas decidindo participar. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), dos 17.192 inscritos com 60 anos ou mais neste ano, 54,35% são mulheres. A faixa etária ainda representa uma pequena parcela (0,35% dos inscritos), mas o crescimento é forte.
Esse perfil abre caminho para repensar o que significa “ter mais de 60”. Não estar limitado por idade. Cuidar da saúde física. Estimular a mente. “Alimentação equilibrada, prática regular de atividades físicas, controle de peso e sono adequado são fundamentais. Quem cuida do corpo consegue enfrentar os desafios do dia a dia com mais disposição, inclusive a dedicação aos estudos ou novos projetos pessoais”, comenta Armindo. “Estudar, ler, debater ideias, se desafiar intelectualmente são práticas que ajudam a manter o cérebro saudável, fortalecem a memória e aumentam a autoestima. O aprendizado contínuo é, de fato, uma ferramenta de longevidade mental”, complementa.
Aprender permanece como propósito
Quando uma pessoa com mais de 60 anos faz o ENEM, não necessariamente busca ingresso imediato na universidade. Para muitos, trata-se de recomeço simbólico ou autodesafio. “O medo de começar algo novo ou de mudar de direção na vida não faz mais parte do repertório do idoso moderno. Na prática clínica e no acompanhamento de nossos pacientes, percebemos um perfil de pessoas que chegaram aos 60 com disposição, curiosidade e vontade de continuar aprendendo. É uma geração que compreendeu que 60+ não é o fim da vida, mas o recomeço, a história continua sendo escrita, com novas conquistas e perspectivas”, destaca o médico.
Terceira idade ativa
Na perspectiva cristã e familiar, esse movimento ganha densidade quando conectado a valores de propósito, comunidade e serviço. O cuidar do corpo, da mente e do próximo ganha ressonância. Armindo aponta dicas práticas que valem para qualquer idade, mas especial para quem está na faixa dos 60 ou mais:
Alimentar-se com equilíbrio – dando prioridade a frutas, verduras, proteínas magras, fibras.
Praticar exercícios regularmente – vale caminhada, alongamento, pilates ou atividades leves que ajudam corpo e mente.
Garantir sono de qualidade – um dos pilares da recuperação física e cognitiva.
Estimular a mente – leitura, cursos, jogos de raciocínio, debates.
Manter a vida social ativa – convivência com amigos, familiares, grupos de interesse traz suporte emocional e motivação.
Cuidar da saúde preventiva – consultas regulares, exames periódicos, acompanhamento médico individualizado.
Esses hábitos alinham-se com a visão de que viver bem após os 60 é resultado de escolhas conscientes, não de passividade. “Nunca é tarde para aprender, mudar ou recomeçar. A vida após os 60 pode, e deve, ser plena”, destaca.
“A nova dinâmica da terceira idade também reflete o aumento do cuidado preventivo. Consultas regulares, exames periódicos e acompanhamento médico individualizado se tornaram práticas comuns, reforçando que envelhecer não significa abrir mão da saúde ou da independência”, conclui Armindo. A jornada não está suspensa por idade. Está em movimento.
Fonte: Portal Comunhão – Por Patrícia Esteves





