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Cuidar de idosos pode virar profissão do futuro e bem paga

O Brasil está envelhecendo em ritmo acelerado e isso transformou o mercado de trabalho de forma surpreendente. Entre 2012 e 2022, o número de cuidadores de idosos registrados formalmente saltou de 5.263 para 34.054 profissionais, um crescimento impressionante de 547% segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED).

Essa explosão na demanda não é coincidência. Com a população idosa brasileira passando de 15,2 milhões para 33 milhões de pessoas entre 2000 e 2023 segundo o IBGE, cuidar de quem tem mais de 60 anos deixou de ser apenas uma tarefa familiar para se tornar uma das profissões mais promissoras do país. O mercado já movimentou 82,6 bilhões de dólares em 2023, com projeção de chegar a 124,4 bilhões de dólares até 2030.

Por que a demanda por cuidadores está crescendo tanto no Brasil?

O envelhecimento populacional brasileiro acontece numa velocidade que poucos países experimentaram. Segundo projeções do IBGE divulgadas em 2024, a proporção de idosos que era 8,7% em 2000 atingiu 15,6% em 2023 e deve chegar a 37,8% em 2070. Ao mesmo tempo, a taxa de fecundidade despencou de 2,32 filhos por mulher em 2000 para apenas 1,57 em 2023.

Fábio Thomé Alves, CEO da 3i Residencial Sênior, explica que os cuidadores são profissionais essenciais para o bem-estar da terceira idade e devem ser um segmento de grande destaque no Brasil. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2019 e 2023 a demanda por cuidadores remunerados aumentou 15%, chegando a aproximadamente 840 mil profissionais. Em 2024, cerca de 21% dos trabalhadores domésticos já atuavam como cuidadores, percentual que era apenas 13,9% em 2014.

Quanto ganha realmente um cuidador de idosos atualmente?

Embora não exista um piso salarial nacional definido por lei, os dados oficiais do CAGED mostram valores concretos para 2025. O salário médio de um cuidador de idosos no Brasil é de 1.726,46 reais para uma jornada de 41 horas semanais, com a remuneração variando entre 1.679,31 e 2.395,57 reais dependendo da região e experiência.

Em São Paulo, o piso salarial estabelecido por convenção coletiva chegou a 1.830 reais mensais a partir de julho de 2025. No Rio de Janeiro, o piso ficou em 1.561,72 reais. A Dra. Gláucia Pettine, terapeuta em geriatria, afirma que com remunerações que podem ultrapassar três salários mínimos em casos especializados, o cuidador de idosos se destaca como uma das profissões chave para o futuro do Brasil.

A profissão de cuidador está sendo reconhecida oficialmente?

Depois de anos de discussões, a regulamentação da profissão finalmente avança no Congresso Nacional. Em dezembro de 2024, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou o Projeto de Lei 5.178/2020, de autoria do senador Paulo Paim. A senadora Teresa Leitão, relatora do projeto, destacou que a proposta dá segurança jurídica e contratual à profissão, além de contribuir para a qualificação desses profissionais por meio da exigência de curso de formação.

A regulamentação estabelece que o contrato de trabalho do cuidador está sujeito às regras da CLT, com jornada de oito horas diárias totalizando 40 horas semanais, ou na forma de revezamento de 12 horas de trabalho por 36 de descanso. O texto inclui entre as atribuições a realização de rotinas de higiene pessoal, administração de medicamentos prescritos e auxílio no deslocamento em atividades sociais. A aprovação final deve trazer ainda mais valorização e formalização para o setor.

Quais são as perspectivas futuras para quem escolher essa carreira?

As projeções demográficas indicam crescimento contínuo da demanda. Rosa Chubaci, professora de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, explica que a redução da taxa de fecundidade colaborou para o envelhecimento populacional, já que as pessoas não têm tantos filhos como antigamente e por isso houve redução do número de jovens no país. Cristina Vieceli, economista do Dieese, reforça que falta infraestrutura pública e privada para apoiar o cuidado contínuo, o que aumenta a demanda por trabalhadores especializados.

Por Carlos Emanoel Freires dos Santos – via Portal Catraca Livre