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Jovem, sedentário e estressado: conheça o novo perfil do paciente cardiológico

Uso de cigarros eletrônicos e jornadas estressantes estão entre os fatores que ameaçam a saúde cardiovascular dos jovens. Foto: Liubomir/Adobe Stock

Cardiologistas têm observado o surgimento de doenças cardiovasculares de forma cada vez mais precoce na população. Nos consultórios, não é mais raro encontrar pacientes na casa dos 30, ou até dos 20 anos, com alterações que, há uma década, eram pouco frequentes nessa faixa etária. “Hoje, vemos uma piora do perfil cardiovascular de pessoas mais jovens”, afirma Fernanda Weiler, médica cardiologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília.

Segundo os especialistas, novos padrões de comportamento são decisivos para explicar essa tendência. Entre os fatores que se destacam estão, por exemplo, a inatividade física e o aumento do tempo que as pessoas passam sentadas, sobretudo em frente a telas. “Esse hábito de extremo sedentarismo piora os fatores inflamatórios e a circulação. E isso aumenta o risco cardiovascular”, explica Fernanda.

Vale destacar que a baixa quantidade de atividade física anda associada ao consumo excessivo de produtos ultraprocessados (ricos em ingredientes críticos para a saúde, como gordura, sódio e açúcar), o que ainda eleva o risco de sobrepeso e obesidade. São condições que favorecem a hipertensão e o aumento do colesterol, fatores capazes de pavimentar o caminho até um infarto.

O uso de cigarros eletrônicos, as jornadas estressantes de trabalho e o uso normalizado de substâncias estimulantes também compõem o cenário que ameaça o coração dos jovens.

Para Fernanda, mais um aspecto que merece lugar na lista é a privação de sono. “Temos que dormir na hora certa e priorizar um sono de boa qualidade. Se já estivermos cansados ao acordar, é importante investigar”, alerta.

Outro ponto de preocupação entre os cardiologistas é a associação que muitos jovens fazem entre saúde e um corpo magro ou muito musculoso. Afinal, esse tipo de noção muitas vezes abre caminho para o excesso de suplementação, consumo exagerado de substâncias estimulantes, como energéticos, e até uso de anabolizantes.

Segundo Agnaldo Piscopo, cardiologista e diretor da Sociedade de Cardiologia de São Paulo (Socesp), as redes sociais potencializam essa falsa idealização do corpo perfeito e impulsionam a busca por anabolizantes. “Mas as pessoas esquecem que o coração é um músculo e que também pode ser afetado por essas substâncias”, avisa.

Cuidados básicos

Para completar o panorama, nem sempre os jovens contam com um acompanhamento médico adequado, o que dificulta eventuais diagnósticos e atrasa a indicação de tratamentos capazes de evitar desfechos graves, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

Um levantamento feito pelo Estadão em janeiro, com base em dados do Ministério da Saúde, mostra que as internações de pessoas abaixo de 40 anos em decorrência de infarto passaram de 1,7 caso por 100 mil habitantes em 2000 para quase 5 em 2022 — um aumento de 184%.

Visitar regularmente um profissional de saúde é especialmente importante para aqueles com predisposição ou histórico familiar de hipertensão arterial ou problemas cardíacos. Para quem tem parentes de primeiro grau (como pai ou mãe) que infartaram antes dos 40 anos, por exemplo, a recomendação é iniciar o acompanhamento médico o quanto antes. O diretor da Socesp também orienta buscar um especialista em caso de fatores de risco, como tabagismo, sobrepeso e pressão alta.

É válido lembrar que, recentemente, novas diretrizes de hipertensão estabeleceram que indivíduos com uma pressão arterial de 120 por 80, o famoso 12 por 8, já podem ser considerados pré-hipertensos — classificação que, antes, era usada a partir de 130 por 85. Para os médicos, essa mudança pode ajudar a evitar novos casos de hipertensão.

Os cardiologistas lembram ainda da importância de manter a vacinação contra gripe, covid-19 e outras doenças em dia. “Isso reduz o risco de infarto e não o contrário, como ideologicamente se popularizou”, avisa Piscopo. Fernanda concorda e explica que infecções virais podem ativar mecanismos inflamatórios, piorando as condições cardiovasculares de pacientes jovens.

É imprescindível associar essas medidas a uma rotina equilibrada, com sono suficiente e de qualidade, prática regular de exercício e uma alimentação que priorize ingredientes in natura.

Fonte: Estadão